sexta-feira, 27 de julho de 2012

anonima

anônimas somos todas. radicais, ilegais, extremistas, feminazis, pensadoras, abortistas, críticas, ésbicas, separatistas. todas que temos que tapar nossos rostos para jogar uma bomba no hetero-patriarcado, tapar nossos rostos para as irmãs reformistas não nos policiarem e perseguirem com sua polícia misógina, com sua desmotivação cautelosíssima, que tapamos nossos rostos para expressar-nos livremente. para queimar as igrejas, para pintar os muros, para transgredir o legislado, para sermos ilegisláveis. as que acomodam tudo sempre na mesma merda não precisam temer exposição, podem escrever, dizer e fazer suas merdas de sempre e serem aceitas por esse sistema de merda que não passa nada. Pensar e ser é altamente perigoso para uma mulher. Somos radicais.

Reformistas de merda, párem de existir pra cagar tudo. Seu feminismo de estado não me representa. seu assistencialismo de merda é medíocre. Não preciso da sua ajuda, não precisamos de mais agentes higienizadores da ordem social. Não preciso de mais paternalismo contendo minhas ações, sua babaquice institucional. Seu diploma de ciências políticas só prova o grau de estupidez que você adquiriu todos esses anos.Seu moralismo trabalhista e seu decentismo me enoja. Você não passa de mais uma parte do setor progre da população mais asquerosa existente, os parasitas burgueses. Seu vocabulário anti-ativistas caretasso é ridículo. Prova que você só vive para consumir e cagar. Sua visão condescedente sobre a revolta popular e seu blabs sobre a demanda populacional malthusiano são a máscara de seu facismo modernizado. Nós não precisamos de suas políticas. Nós não precisamos de você.

a acontabilidade é uma ilusão porque a comunidade é uma ilusão: processo de responsabilização ferramenta de nova geração de violadores progressistas

Nos últimos anos venho assistindo com horror como a linguagem de acontabilidade e responsabilização se tornou uma frente fácil para uma nova geração de manipuladores emocionais. Ela vem sendo usada para aperfeiçoar uma nova forma de maverick predatório- aquele escolarizado na linguagem da sensitividade - usando a ilusão de acontabilidade como moeda-forte comunitária - Em "Safety is an Ilusion - thoughts about Community accountability"

manufaturando o consenso

‎"Eu nunca tocaria uma pessoa sem seu consentimento, então onde o consentimento não estivesse imediatamnete presente, eu o manufaturaria o melhor que pudesse."

-  Manufaturar o Consenso, pode ser estupro? , texto de um cara, sobre como condutas de flerte se tornam agressões sexuais.


interessante pra quem tá acolhendo o lance de consentimento agora. recomendaria que fosse lido por lésbicas também.


condenamos o estupro e a agressão sexual como problemas longínquos, até acostumadas pelas torrentes de uptades em facebook contra a cultura de estupro, e as mídias como estereotipam estupradores e estupro. e não pensamos nunca como essas coisas podem estar tão próximas a nós.


nas relações íntimas podem haver muitas condutas de coerção para se ter o que se necessita, pode haver abuso passivo, pressão, drama, chantagem, no marco mesmo da feminilidade clássica. as feministas falam em leis ou em criar novos códigos penais (que é uma merda, não passam dum braço do estado, e claro, é algo que vem da agenda das feministas brancas), as feministas anarchas e independentes falam em fazer escracho, em alguns lados o escracho também tá colonizado pelo heroismo justiceiro machista, serve como descarga até pra um povo fora da experiência, mas trabalho profundo e contínuo parece que não acontece. muitas vezes o agressor continua por aí sem mudar merda alguma, e a sobrevivente vai ter que lidar com o que passou de qualquer jeito, e não significa que esteja protegida. Debate coletivo e apropriação comunitária das experiências de justiça e criação de justiça, não se vê. Criar ferramentas a partir das experiências, tampouco.


Primeiro, trabalho de prevenção não ocorre. Vamos seguir pensando as agressões como algo que não pode acontecer com nós - seja de qual lado possamos estar. Não vamos pensar as raízes das condutas e como as reproduzimos ou criamos ambientes que as facilitem.


Obviamente a cultura constrói as condições para os abusos sexuais, e a socialização da Masculinidade quase a torna compulsória - pornografia, amigos, e a necessidade de provar que é homem.

Não acho que todo abuso sexual é um acidente, como parece pintar o processo de responsabilização, tampouco. Acho que muitas vezes vem de uma postura de privilégio masculino e Poder que recusam-se os homens a repensá-la ou abdicá-la. Violência e femicídio também são estruturais.

As oficinas de consenso me parecem um instrumento interessante para educar sobre abusos e podermos orientar um@s aos Outr@s, é aquela coisa 'a sociedade ensina como evitar estupro, não ensina como não estuprar'. Eu também cresci tendo que ouvir meus pais dizendo que tinha que me cuidar, acho que foi aí que virei 'feminazi'...

O abuso sexual não é apenas aquela imagem dos filmes, a coerção explícita. Esta sim existe, mas existem talvez as mais perigosas, as silenciosas, as bondosas. Ainda a confiança é o espaço onde ocorrem os abusos.
Andamos conseguindo aceitar, ver e lidar com os "nãos"? Orientamos e criamos ambientes onde haja consciência de que as interações devem ser consensuais de maneira completa?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

heterossexualidade institucional e reformista

feministas acabam sendo seduzidas e enganadas outra vez como no velho conto romântico quando seu ativismo trabalha apenas para engordar o próprio sistema. Leis, códigos, presidentas, editais, eu não consigo ver nada mais hetero que trabalhar desta maneira, é o trabalho de casa outra vez, o trabalho de cuidado, de criar a nação. vejo feminismo e políticas de identidade deviam ter uma noção bem clara de si mesm@s, porque pisam no terreno mais arriscado de suas políticas, de serem apropriados pelo sistema. cada vez que 'conquistamos' uma nova merda no sistema, destruimos a possibilidade de autonomia popular, de gerar recursos por nós mesmas e nas comunidades, alternativ@s ao sistema. eu chamaria o feminismo institucional de feminismo conservador. Que utilidade existe de um movimento social que existe para perpetuar o próprio Estado, racista, militarista, policial, violador? Morte ao feminismo nacionalista. Eu recuso o papel de mãe que vocês querem me re-atribuir.

prisões regulam o sexo na sociedade

prisão: sistema social também criado para regular o lugar social do gênero. o lugar social feminino. por essência misógina, são criminalizadas e presas: mulheres imigrantes, mulheres que se prostituem, mulheres que abortam, mulheres que matam agressores, mulheres empobrecidas, mulheres negras, mulheres que furtam ou portam drogas, muitas vezes por necessidade, mulheres responsabilizadas outra vez, com suas 'infrações' sendo produtos da reestruturação produtiva global, a prisão culpa a vítima como o velho machismo, também são presas mulheres em envolvimento político subversivo, porque o trabalho político também rompe essencialmente o papel de gênero atribuído. São criminalizados movimentos sociais, são criminalizadas as ocupações urbanas, são criminalizad@s aqueles que nelas estão. Mulheres mães, mulheres são deportadas, as prisões são soluções artificiais para problemas gerado por imigrações, ela também tá relacionado com os sistema prostituinte que também capta as mulheres em diáspora na globalização. as prisões devem acabar.

terça-feira, 24 de julho de 2012

O privilégio é todo seu

“Se você participa consciente ou inconscientemente na opressão da sua companheira negra e ela te critica, responder a sua ira com a sua somente servirá para que nossa comunicação se converta em um intercâmbio de hostilidades. Será uma perda de energías, pois não permitiremos aprender umas com as outras, e sim criar uma batalha entre nós para impor nossa verdade”.


- Audre Lorde.


Digo o mesmo para as hetero e poli feministas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

poliamor não pode ser um projeto lésbico ou feminista, pois sua origem é hetero-masculina-esquerdista e não genuinamente nossa. Precisamos de expressões próprias e novas de relações


Com relação à "amor livre" e "poliamor", minha ética feminista é ética de [auto] cuidado, e vem primeiro, porque mulheres vem primeiro para as éticas feministas e lésbicas. Porque a história e herstória nos mostrou que se não lutamos por nós mesmas, ninguém o fará, e não podemos esperar das revoluções, partidos, estados e organizações mais que a apropriação do nosso trabalho revolucionário no mais das vezes, assim que colocamos o feminismo e as mulheres em primeiro, nos colocamos em primeiro.

Porque é assim a ação direta de mulheres para desconstruirmos o ódio entre nós, contra nós e auto-ódio. Então eu me cago na ética anarquista, liberal. Poligamia é e foi o regime mais comum do Patriarcado, no qual se baseava a estrutura do harém. O acesso a muitas mulheres é de uma tradição machista.

Acredito que o medo a intimidade, que já vem herdado das relações capitalistas e de propriedade privada (bem disseram os teóricos do absolutismo e marquês de sade outro teórico que funda a modernidade, "o homem é o lobo do homem" na ideologia desta ordem social em que vivemos, o outro é um estranho e não me reconheço nele, mais fácil me identificar com o discurso da empresa que com @ outr@ trabalhad@r), é potencializado pelas políticas pós-modernas sexuais que vêm colonizando as comunidades lésbicas e lGBT. Seja com as teorias queer ou com outras ondas de pós-porno, etc. A promiscuidade se tornou uma agenda política de primeira ordem no lesbianismo, tanto que em alguns encontros o único que se debate agora são práticas sexuais, reproduzindo novamente a idéia hetero-patriarcal de que lesbianismo não é sobre resistência política e sim sobre sexo, logo, nada ameaçante a sociedade.


A destruição da possibilidade de cumplicidade íntima entre mulheres é uma maneira de destruir nossas comunidades e à nós mesmas, reduzindo a sexualidade a um mecanicismo grosseiro e impedindo vinculos profundos entre mulheres. Recuperando as sensações de medo e competição que já vem nos destruindo como comunidade de mulheres.

Considero quase sempre a relação aberta, uma forma de agressão e tortura psicológica mutuamente consentida num contrato coercitivo liberal e machista. Vejo que historicamente, as mulheres não tiveram segurança. Elas não podem esperar nada de um relacionamento também, ainda mais depois da contra-cultura sexual dos 70, é ser retrógrada não aceitar ser mais um objeto de troca entre homens liberados. Essa liberação privilegiada-masculina deles não é a mesma liberação que nós necessitamos.

Não temos construções de relações substanciais porque são uma ameaça ao sistema. É preferível que nos instrumentalizemos.

Relações são sobre responsabilidade, segurança, contenção também, e precisamos admitir isso. Neste mundo lesbofóbico, misógino e de capitalismo extremamente violento e vulnerador, temos necessidade de amparo mútuo e comunitário acentuado.

Emprestar expressões machistas e masculinas de anarco-movimentos já criticados pelas mulheres que neles estiveram na história, e principalmente da contra-cultura sexual (Revolução Sexual) dos 70 que não passou de um Backlash às mobilizações e avanços feministas e de mulheres, possui riscos para nós. E não passam senão de uma estratégia machista pra colonizar nossas comunidades com ódio mútuo.


Pra muitas feministas, a alternativa à relação de "pareja" é a pobreza relacional, como maneira de proteção pessoal bastante liberal. Eu não tenho nenhum acordo com essa história de que temos que ser "sozinhas", "autônomas" num sentido bem pervertido e liberal, que é o de 'única culpada de tudo'. "Lide isso você mesma". A raiva de mulheres é justificada, muitas vezes o que chamam de ciúme é reivindicação de responsabilidade e igualdade de decisões em uma relação, compromisso com o que os vínculos implicam. E implicam muita coisa.


Ninguém é 'sozinha', no sentido liberal, de que existe uma auto-subsistência totalmente individual. É preciso redefinir autonomia para não cair nos paradigmas falsos liberais que pretendem culpar a vítima e desolar sujeitos. É certo que sem sujeito não há libertação, mas tampouco sem comunidade não há libertação real e coletiva.


Sob capitalismo o apoio mútuo da relação amorosa se impôe como necessidade de auto preservação, auto defesa e sobrevivência, isso pode implicar mais vulnerabilidade e relações de dependência que podem gerar desamparo e violência doméstica, isolamento.


Minha proposta é que ao invés de uma parceria amorosa única, as lésbicas possam ter acesso a uma comunidade de mulheres onde se sentirão fortes, seguras e inteiras. Assim se quebra a monogamia, não com polícia moral anarquista e suas teses falcatruas de sempre.

O conceito de "parejo", muito criticado em língua espanhola para referir-se às relações de dependência mútua ou de simbiose dissolutiva do individual, para mim não remete somente a essa noção demonizada por feministas [liberais] e anarquistas, e sim se algo é "parejo", é porque está "igual", ou seja, "igualitário", se diz. A idéia de que "a pessoa que se arranje, os sentimentos de insegurança são delas" é incrívelmente anti solidario e liberal "isso é problema seu", foda-se você. Já a idéia de fazer toda essa merda com "cuidado" me parece o mesmo que violar com "cuidado", para que o escravo sinta-se satisfeito com o tirano da relação. A raiva de mulheres e lésbicas com esse tipo de hostilidade me parece justa, é a raiva da injustiça de coisas que não são igualitárias, que chamam 'ciúme', termo naturalizante. 



Comparar o 'ciúme' com a violência machista me parece ridículo, que é uma política de ódio e não vem da natureza. Mulheres precisam sentir segurança, vivemos em contextos de vulnerabilidade. Homens não sentem isso, sentem necessidade de assegurar sua Masculinidade que se expressa pela apropriação das mulheres, seu controle e seu acesso. O término da relação é mais revolucionário que a reformação com a relação aberta. A primeira é ataque frontal a monogamia, a segunda é um reformismo grosseiro.




(reflexões não teminadas e em processo de construção)

conceito de gênero não é a melhor maneira de progredir

Alguém poderia pensar que isso teria sido logicamente  uma das primeiras questões a serem feitas, e é indubitável a razão pela qual algumas feministas na França  (por exemplo, Guillaumin, 1982; Mathieu, 1980; e Wittig, 1992) tivessem se oposto a usar o termo 'gênero'. Elas acreditavam que isso reinforçava a idéia de que 'sexo' em si mesmo é puramente natural. De qualquer modo, não usar o conceito de gênero não significa  que alguém assim dirigiria questões à característica natural do sexo. Então economisando no conceito de gênero não parece pra mim a melhor maneira de progredir .


- Christine Delphy, rethinking sex and gender
Entrevista com Nawal El Saadawi, parafraseando amiga, quando perguntaram pra ela o que ela achava de mulheres do ocidente fazendo campanha contra mutilação genital feminina.

"- Você tem algum conselho para as mulheres no Ocidente que advogam pelos direitos das mulheres em outros lugares, sem permitir que essa questão dos direitos das mulheres seja instrumentalizada?

- Eu sempre digo que precisamos de solidariedade global e local - o que nós chamamos de "glocal". Mulheres no Ocidente podem nos apoiar por combater seus próprios governos, porque seus governos são aqueles que interferem em nossa vida, por ir e invadir e colonizar outros países. Ninguém pode ajudar ninguém. Ninguém pode nos ajudar no Egito - nós fizemos nossa revolução sozinhos, nós nos libertamos sozinhos. Não acredito em caridade e "ajuda". Acredito em igual troca de ideias, e networking.

- Você alguma vez tem medo quando você condena certas práticas como a MGF (Mutilação Genital Feminina) como "bárbaras", essas condenações seram apropriadas por pessoas com uma agenda anti-árabe?

- Sim, podem usar isso contra nós, para dizer que somos bárbaros e precisamos ser colonizados e civilizados. Mas eles não olham para si mesmos: na Europa e América, as mulheres são circuncizadas mentalmente. As feministas que estão atentas sobre os efeitos do patriarcado compreendem que todas estamos no mesmo barco dos perigos do patriarcado, e que a opressão das mulheres é universal."
"Portanto, a escravização de mulheres, combinando tanto o racismo como o sexismo, precedeu à formação das classes e da opressão de classe. As diferenças de classe eram, no início, expressas e constituídas em termos de relações patriarcais. A classe não é um constructo separado do gênero; antes, a classe é expressa em termos de gênero" - Gerda Lerner

domingo, 22 de julho de 2012

the spinster and her enemies...!

"Você prefere garotos ou garotas?".
"Eu não gosto de garotos!!"
"Eu gosto de Netflix" (sei lá que porra é essa)
"e pássaros!"

assim é um ser saudável e autônomo que a sociedade corrompe pra tornar em um ser sexuado e submisso...
autonomia sexual.
Como e a quem(s) amar também são decisões políticas


desnaturalizando o 'amor'...

vínculos: um tema central no feminismo.
não consigo entender poliamor fora de contexto de dominância masculina.

Este é o Poder da minha Imaginação


Escrevi um lance que é meio que uma escrita exercício de imaginação ativa, resultado de uma introspecção pessoal e dos próprios processos constantes de superação pessoal. É algo meio dedicado mais ao trabalho interno de cada uma de nós mais que nada, que não significa que ignoramos o fato de que não existem sistemas oprimindo, isso remete-se ao trabalho que temos que fazer com nós mesmas. É algo pensado em relação àquelas e talvez aquel*s que sejam sobreviventes de algum modo por suas experiências na vida. Acho que mulheres somos todas sobreviventes do Patriarcado e da violência masculina em geral, pois individualmente dificilmente escapamos dela.

Espero que ajude algo.
Para todas irmãs e em primeiro lugar para minhas irmãs.

______________________________________________________________________________

Sou independente de você. Minha mente é independente de você. Minha vida é independente da sua. Minha confiança é minha. Em minha imaginação você é um vulto apagado e insignificante. Eu sou livre, um animal livre, forte e cheio de energia. Sou como um cavalo selvagem que se desvencilhou, correndo livre, arrebatado, sem nem saber que força o toma. Eu fui muito mais longe e longe, e sua imagem se tornou cada vez mais irreconhecível até desaparecer no horizonte ultrapassado pelos meus passos velozes indo e indo cada vez mais longe. Minha força é muito maior que a sua. Está dentro de mim, gigantesca, e ao mesmo tempo está na Natureza, conectada com a Terra e transcendental, para além de mim mesma.

Alimentada direto pelo cordão umbilical que me une a vida, que mantenho intacta, que recuperei perdida. Eu fui muito mais longe e estou começando a acreditar na minha força e valor, a descobrir e recuperar minha capacidade escondida de mim mesma e a conhecer minha energia avassalora escondida, vital, sou como um felino selvagem que esteve cativo e destruiu suas jaulas com sua prórpia força adormecida em seus músculos, que descobre a fúria de seus próprios passos, que correm até o infinito em busca desconhecida. Despertando a energia dormida nos músculos que estiveram inativos pelo medo tantos anos. Nada segurará, deterá, a fúria assusta e vence a todos que tentarem aprisionar outra vez, serão destruídos e serão deixados pelos meus passos indomáveis.

Esse é o poder da minha imaginação.
É assim que eu me vejo.

...


eu me dou o empoderamento, ninguém mais eu verto sobre mim imaginação poderosa sentir minha força liberada recria minha auto-imagem a antiga, baseada na prisão, se reconstrói eu desfaço a imagem falsa que vocês me ofereceram sobre mim. eu me defino. 


 ...


 eu escrevo isso para que mulheres vertam sobre si imaginação poderosa, que nos vai curar.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

este é o meu aborto

mulher tirou fotos do próprio aborto para desmistificar as fotos que se fazem dos abortos e se exibem nas campanhas cristãs, com fetos despedaçados e etc, e para fortalecer as mulheres que além de estarem criminalizadas, ainda tem que passar por uma série de discursos e imagens construídas sobre o abortamento. Ela tirou com câmera de celular de maneira escondida e exibiu na internet para sacar as experiências sempre negativizadas que se difundem do abortamento, e da relação das mulheres com próprio corpo e aborto. Muito massa. Veja mais em  http://www.thisismyabortion.com/

"Todas feministas rejeitam a hierarquia sexo/gênero, mas muito poucas estão preparadas para admitir que a consequência lógica desta rejeição é a recusa dos papéis de sexo, e a desaparição do gênero. Feministas parecem querer abolir a hierarquia e até mesmo os papéis sexuais, mas não a diferença em si mesma. Elas querem abolir os conteúdos mas não o container. Elas querem manter alguns elementos do gênero. Algumas querem manter mais, outras menos, mas ao menos elas querem manter a classificação"


- Christine Delphy

quinta-feira, 19 de julho de 2012



“Um dogmatismo de tolerância infectou o movimento de mulheres. Como um dogma, a tolerância asserta que não devem haver julgamentos de valor sobre qualquer coisa. Usando a retórica de não impôr valores nos outros, mulheres compram uma filosofia perigosa nas quais elas desnudam a si mesmas da capacidade de julgamento moral. O que elas não descobrem é que os valores vão sempre assertar a eles mesmos. Quando uma mulher não toma responsabilidade de gerar e representar os valores que fizemos acordo comum, elas se tornam frouxas por conta da tirania dos valores d*s demais” 




- Janice Raymond. A Passion for Friends: Toward a Philosophy of Female Affection


"O Processo de Acontabilidade (Responsabilização) muitas vezes faz muitos bens mas muitas vezes ele apenas ensina os homens a parecerem não-abusivos quando nada mudou a não ser pelas palavras que saem da sua boca. Sobreviventes e amig*s são deixad*s pensando se ser chamado homem não é mais uma ameaça. Eventualmente a questão recua da cabeça das pessoas porque elas não querem ser muito reacionárias e não saem que passos mais sequer tomarem e o perpetrador está apto a continuar em suas vidas sem mudarem qualquer coisa"  


- Billy Kaye, é o Homem Anarquista nosso Camarada?
“Se você é um homem e você não está pronto para mudar radicalmente, então eu não preciso de você na minha vida mais. Se você é uma mulher, qualquer mulher, então estou pronta para chamar você de minha irmã e ajudá-la e lutar por você.” Molasses
o corpo da mulher como espaço de disputa

O interesse dos homens e libertários no feminismo acaba reproduzindo a mesma metáfora masculinista onde os corpos das mulheres são objeto de disputa como metáfora da união desejada, assim como os Estados Nacionais frequentemente remetem-se a imagens femininas para simbolizar a união nacional. Os corpos das mulheres simbolizam o pacto e solidariedade entre homens. A Prostituição, enquanto sistema social, é expressão mais clássica do rito da masculinidade.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

"Mulheres são um *sexo*. Mulheres são um grupo separado devido a sua distinção biológica. O mérito de usar o termo é de que ele claramente define as mulheres, não como um subgrupo ou um grupo minoritário, mas metade do todo. Homens são o único outro sexo. Obviamente, não estamos aqui nos referindo à atividade sexual, mas a um dado biológico. Pessoas pertencendo a um ou outro sexo são capazes de e podem ser agrupadas de acordo com uma ampla variedade de preferências sexuais e atividades.
*Gênero* é a definição cultural do comportamento definido como apropriado para os sexos em uma dada sociedade num determinado tempo. O gênero é um conjunto de papéis culturais. É um costume, uma máscara, uma camisa-de-força na qual homens e mulheres dançam sua dança desigual. Infelizmente, o termo é usado tanto no discurso acadêmico e na mídia como intercambiável com o "sexo". Na verdade, seu público generalizado o utiliza provavelmente devido a ele soar um tanto mais "refinado" do que a simples palavra "sexo" com suas conotações "desagradáveis". Tal uso é infeliz, porque ele esconde e mistifica a diferença entre o biologicamente dado - o sexo - e o culturalmente criado - o gênero. Feministas mais do que todos deveriam querer pontuar essa diferença e deveriam, assim, ser cautelosas ao usar as palavras apropriadas."

- Gerda Lerner

invibilização das lésbicas pelo hedonismo sexual pomo e onde ficam os privilégios no discurso da diversidade do capital?


"O que faz algumas de nós desconfortáveis com mulheres bissexuais? É porque seja porque pensamos que é uma lésbica tendo sexo heterossexual, ou uma garota hetero testando suas fantasias na gente antes de retornar a um homem?
No mundo atual pós-moderno e queer-focado, bissexualidade está sendo promovida igualmente às lésbicas e mulheres heterossexuais como a última moda. Isso foi um resultado das políticas lésbicas, nomeadas feminismo, sendo passadas para trás para tornarem-se em hedonismo sexual, onde a única coisa que importa é o prazer sexual e o desejo.
Similarmente, bissexualidade é vendida para mulheres heterossexuais como tipo de recreação fora de seu 'lar natural' do sexo heterossexual. Isso é visto como 'lesbianismo temporário'.
É mais na moda ter sexo com um homem se você é lésbica que se você é hetero, que apenas estará voltando atrás para o que ela é esperada fazer 'naturalmente'. Lésbicas tendo sexo hetero são vistas como transgressivas, quando de fato elas estão simplesmente revertendo para uma forma tradicional de serem mulheres.Para as mulheres hetero, ter uma namorada do lado é quase como ter a última bolsa de Prada.
Camille Paglia, a mais famosa lésbica anti-lésbica, escreveu sobre como ela louva o pênis e não pode entender aquelas de nós que não o fazem"



Gostoi do que ela escreveu. Eu não sou contra nenhuma mulher salvo que sejam governistas, facistas, oficialistas, reformistas, oportunistas políticas ou algum outro motivo, e nem contra suas escolhas sexuais, mas aqui claro que ela tá falando da comodificação da bissexualidade que existe recentemente e que é muito desrespeituosa na maneira como coloniza e se apropria da identidade e culturas lésbicas muitas vezes, sem cuidado qualquer em como estão nos invisibilizando com isso e quão violento é isso com a gente, num contexto com tantos discursos que já nos invisibilizam e nos colocam como alternativa, como fetiche, como raridade, como experimento, como objetificação (como mulheres e lésbicas), como outridade exótica interessante, como sexuais e sexys, como prog, como transgressivo, emfim todo um lugar de inintelibilidade em que nos recolocam constantemente. E se chamamos elas (essas garotas sem nenhuma acontabilidade com como estão se apropriando do lesbianismo nem de seus próprios privilégios heteros) em sua merda, elas sentem isso como agressão pessoal, e elevam a estatus político na 'política da diversidade' acrítica, como se fosse um ataque a sua decisão sobre corpos ou mesmo identidade política, confundindo tudo pra difundir outra vez a merda da opressão reversa, se vitimizando elas dizendo que agressoras são as lésbicas que não querem ser apagadas outra vez por essas performances ou o que quer que isso seja, mesmo dizendo que nossos sentimentos de ultraje são inválidos. Eu de verdade aceito qualquer mulher que sabe estar em solidariedade com as lésbicas e tem sensibilidade, que solidariza e apoia lesbianismo político, e mesmo que vivam com homens, que emfim não é da minha conta e nem me importa muito, sabem ser cuidadosas e sabem tirar lições das éticas que o lesbianismo pode passar, emfim que não ficam roubando as voz daquelas que VIVEM como uma lésbica, que não têm os benefícios sociais de uma relação com um homem - não sofrer discriminação, não sofrer da lesbofobia itnernalizada da parceria, poder serem assumidas para a família e para a sociedade como companheira, não sofrer as confusões mentais da pessoa e outras que sempre levam anossa marginalização simbólica, emfim várias outras violências que sempre tentam nos tornar invisíveis.

É muito opressivo pra uma lésbica como as mulheres tem arraigada a feminilidade patriarcal e a supremacia masculina, e escolhem homens-em-primeiro, estar na condição de relação alternativa, de experimento poliamoroso, de situação passageira, nunca estar na condição simbólica de EXISTENTE. Essas são coisas reais que garotas com privilégio heterossexuais (independente de como você se auto-defina, porque isso não muda seus privilégios, tampouco acho que política de identidade é auto-atribuída, acho que são sistemas que nos atribuem elas) podiam olhar pra elas mesmas antes de apontar dedo na cara de lésbicas [feministas] e proclamar um feminismo 3o ondístico da diversidade fajuta do capital dizendo que somos nós as que temos 'discurso violento' ou de 'julgar as mulheres', que somos muito 'agressivas' e estridentes por não aceitarmos sua lesbofobia reformada pra cima da gente, inclusive reproduzindo coisas que sequer falamos muitas vezes e distorcendo tudo. De verdade eu não me interesso sobre que escolhas vocês estão fazendo, não é da minha conta e me poupe, principalmente de politizá-la. Não quero saber nem me interessa se você fica com garotas fora da sua relação estável com um homem com aprovação deste, se vocês dois se masturbam depois quando você leva seus relatos das suas 'experiências' com outras mulheres e lésbicas e o quanto sua relação ht é genial, supostamente 'igualitária', fascinante, libertária, quanto ele te 'deixa' várias liberdades e blablabla..., não quero saber tampouco se você tem uma 'amiga lésbica' (assim como os heteros se vangloriam de ter um amigo gay ou os brancos se vangloriam de ter um amigo negro?) que aprova suas atitudes e se anula por você onde você justifica sua merda, não me interessa quanto sua vida sexual está satisfatória na sua maravilhosa 'liberdade' sexual. Já engoli esses discursos toda minha vida. Pra isso ligo a TV.

Eliminar as lésbicas não é só fisicamente, os discursos vigentes também nos eliminam. Nos eliminam da história, da memória. Eliminam a referência a uma sexualidade não fálica. Eliminam com pornografia, sex shop, mercado de dildos e outros sintomáticos da idéia de que a nós nos falta algo, como mulheres que somos que escolhemos mulheres. Existe eliminação simbólica. Você está consciente dela? Provavelmente não, e se faz difícil à você em especial, porque parte do que significa ter privilégio é não experimentar na própria vida essa condição que apenas pode saber escutando de outras, e principalmente não ter que se preocupar em absoluto com isso tudo. (mais fácil depois você dizer que quem tá criando problemas somos nós, as lésbicas facistas que não te satisfaz e não age como você gostaria, sendo a 'amiguinha lésbica' da ht ou bi).


Ao dizer que não me importam suas vidas privadas, claro que não quero com isso dizer que jogo solidariedade e cuidado mútuo no lixo, como feminista, mas digo que não me coloco nunca na posição de decidir por ninguém (alguém já me viu fazendo isso com alguém? não) um autoritarismo e justamente o que nos é roubado pela dominância masculina e nos custa recuperar (decidir sobre nossos corpos e vidas, a despeito da discussão de como as decisões são também construídas e as coerções existentes), mas  sim quero que as pessoas se responsabilizem dos lugares onde estão de modo a não seguirmos sempre estando nós, as lésbicas que vivem como lésbicas e arcam os custos disso e não tem nem como escolher e nem queremos escolher a proteção da heterossexualidade, não seguirmos na condição radical de invisibilidade e irreconhecimento simbólico que nos é atribuído e é parte fundamental da nossa opressão, pra além da rasidade do debate de 'diversidade' e 'discriminação' liberal e reformista. Afinal, a coisa é realmente mais embaixo.

Emfim companheiras, diálogo é possível, embora eu tenha prioridades: mulheres e lésbicas. Se você for sugar minha energia, não tenho vontade de chegar a acordos onde eu tenha que ceder.

Mas se você tá afim de autocriticar-se como todas feministas devemos fazer constantemente, o recado que eu deixo é de que cuidado não é tão difícil assim e que todas podemos. Vamos fazer um esforço?

apropriar-nos da solidão e recuperarmos seu sentido para destruir o Patriarcado.



Sinceramente eu penso que mais que a lésbica, a mulher sozinha é uma ameaça fundamental ao Patriarcado. Ainda no lesbianismo (segundo a construção recorrente de relações) se está refém do outro. A construção social de que se 'necessita' do outro para satisfazer-se sexualmente (idéia extremamente generalizada que chega a transformar a masturbação num produto de um original que seria a 'relação sexual' com alguém quando as relações sexuais é que são um produto da masturbação que é a sexualidade realmente original), emocionalmente, ou o que seja, existe sempre um margem de dependência e mesmo os discursos biologicistas denotam que se travam relações com base numa suposta 'natureza' desta necessidade, não como um compartir genuíno de duas vidas. As relações são compulsórias. E é completamente vedada à nós imagens das mulheres sozinhas, e se há são retratadas como: velhinhas, mulher-madura, ou viúvas e divorciadas, mulheres que já 'oh', tiveram relações duradouras com homens então ok, já executaram suas funções reprodutivas e sexuais necessárias ao sistema, e tantos outros estereótipos forjados negativizando a solidão. A solidão também nos é retratada como enfeiando-nos, fracassando-nos, enquanto que os homens não existe imagem correspondente, em geral se aceita que são 'solitários' que fazem suas vidas por si mesmos, e que relações são ocasionais no máximo. A mulher sozinha é uma 'infeliz'. Está profundamente na cultura e na nossa criação, a necessidade do Outro, a mulher boa é a mulher bem acompanhada, devidamente escoltada pelo sistema. A mulher erotizada pela colonização do sistema, devidamente satisfeita sexualmente por este, necessidade também inventada. Seja satisfeita sexualmente pela inventada 'necessidade do pênis' heterosexista obrigatória, seja satisfeita pela 'pareja' ou por uma pessoa, outra obrigatoriedade do sistema usada para cooptar formas de vida dissidentes como a lésbica, 'as lesbianas são adictas a relações' se diz. Por que? Porque não escapamos do marco da feminilidade hegemônica, onde uma mulher é insuficiente em si e sem o falo, a faltante. Não saimos do marco simbólico da 'faltante' atribuido pelo Patriarcado, para recuperar autoerotismo e autogestão espiritual e sexual. A solidão é extremamente proibida as mulheres, porque é a fonte da autonomia revolucionária que nos libertaria desde o mais profundo.

+ sobre porno e colonização da comunidade lésbica


não existe nenhuma possibilidade de sobrevivência das mulheres e lésbicas por meio da pós-pornografia e pornografia, ou da terrorpornografia ou o que seja. Essencialmente a pornografia é degradação da mulher e do Outro, não existe nenhuma possibilidade de recriar-nos e a nossa sexualidade colonizada e tomada, nossos corpos e imaginários tomados, depois de séculos de violências e violações racistas brancas e de atrocidade masculina, por meio da pornografia. A pornografia destruiu a comunidade lésbica, como queria o patriarcado. Você não pode esperar nenhuma solidariedade ou amor de uma outra mulher, o patriarcado re-semeou o ódio entre as mulheres, a heterosexualidade. A ética e a estética da pornografia é a negação do outro em sua fundação. Nâo existe mais nenhuma definição própria da lesbianidade que reste, que não seja a patriarcal e não a da comunidade mulheres, a definição de que eramos sobre resistência coletiva ao heteropatriarcado e cumplicidade entre mulheres, a unica definição que restou é a masculina, de que somos sexo.

Quando me mostrem sites de pornografia feminista europeus, é isso que penso da apropriação da pornografia, um instrumento de dominação patriarcal. Não tenho interesse de me apropriar nem da pornografia, nem da prostituição, nem do escravismo, nem do Estado, nem das leis, não tenho interesse em ressignificar nada que tenha sido criad* pelo patriarcado, tenho interesse em criar novas coisas. Acho uma distração. Já não há esperança de encontrar na comunidade feminista qualquer relação profunda entre nosotras, de conhecimento mútuo profundo, proteção, segurança, a pornografia tornou as mulheres sozinhas e isoladas outra vez uma das outras. A comunidade lésbica não significa mais nada sobre ética de amor entre mulheres, de construir um mundo diferente.  Devemos ao feminismo liberal individualista queer burguês e sua libertação sexual lésbica que agora nossa comunidade já está livre do compromisso entre mulheres anti-poliamor.

a gente já não pode rejeitar essencialmente e radicalmente a violência e a degradação, a gente só pode negociar, com as armas e linguagem patriarcais e capitalistas, do consentimento, do consenso, consentimento em degradar-me ou degradar o Outro. Não existe construção de relação igualitária. Eles são os verdadeiros essencialistas, ao dizer que a sexualidade é essencialmente degradação e só nos resta negociar, com palavras seguras, para sobrevivermos por meio desse sexo. Tudo é resumido a um contratualismo liberal sexual, abolir formas de sexualidade opressivas não é possível.

Esta é uma questão ética, não  é uma questão privada.

pornografia não é nenhuma solução para lesbicas

lesbianismo é, por essência e definição, a contra-lógica fálica


Me mandaram isso http://www.cuerposlesbianos.net/ , um site de pós-pornografia lesbiana ou algo assim. E pediram uma opinião.

Então olhei as fotos com cuidado, pensei no lado de quem faz e na proposta transformativa ali presente, as motivações feministas, pró-sexualidade... pensei. E ao final o que penso é mais ou menos assim pra começar:


O que penso da pós-pornografia é que ela distorce as coisas, e que ela é extremamente privilegiada, branca e burguesa, além de 1o mundista. Primero ela faz parecer que o problema das lésbicas é apenas sexual, assim sexual reduzido a prática sexual. E a visibilidade é sexual também com relação a consumo, direito ao consumo de determinas sexualidades, construídas. PArece que oferecem uma imagem de alternativa, de anti-estética, mas a estética ta ali presente. São garotas não magras, algumas tem pelos nas axilas, etc, mas isso nao muda o conteúdo de classe da coisa. A pornorgafia muda a realidade de quais lésbicas? Eu acho que essas são europeias, brancas, e tem grana, acesso a internet... Sabe eu penso, o orgasmo mais intenso ou múltiplo ou diferente ele muda a realidade coeltiva das lésbicas? Nosso problema é sexual? A negação da sexualidade lésbica é destruída e combatida pela pós-pornografia, ou esse mesmo espaço está colonizado pelas tentativas de destruí-la? Que estética prevalesce ali? Eu vejo muitos dildos, acessórios, e o sexo em ambientes públicos e etc, o jogo é uma solução para quem? Que tipo de 'libertação' traz o jogo, as estéticas alt, ou a apropriação da agressão ou a ressignificação do falo, sabe eu acho que essas pessoas pensam que a libertação se dá no nível individual ou das sensações, do sentir-se livre para isso ou aquilo, eu acho que é uma noção de liberdade mercantilizada.

A liberdade de consumir ou fazer ou ser, acessível a tod@s. Tipo os homens como classe tem acesso a corpos de mulheres na pornorgafia e prostituição. Da onde que a solução disso é eu acessar a minha 'também', tipo agora na prateleira do mercado eu sou contemplada, o nicho lésbico. Emfim, eu acho que fato de consumir essas imagens não muda a realidade coletiva de que os homens consomem as imagens pornograficas porque hegemonicamente e institucionalmente, é preciso instaurar determinadas sexualidades, e determinada sexualidade masculina, com fins de dominação... e que também são corporações e redes inteiras que lucram das pessoas prostituídas, do tráfico e etc. Eu não sei se coletivamente a pornografia 'feminista' ou lésbica, liberta, e nem se ajuda a criar um imaginário não falocentrico e não heterossexual para nós. Eu acho que não é possível imaginar enquanto há pornografia, não é possível viver a sexualidade pra fora dos marcos estabelecidos pelo sistema, enquanto há pornografia, não é possível descolonizar-nos enquanto há pornografia.

feminismo personalista e a tal 'polícia feminista'


To meio desgastada intelectualmente de tentar entender as confusões recentes do feminismo personalista, ou seja lá que nome podemos dar a ele. Não funciona assim. Agora qualquer grupo privilegiado e indivíduos podem ficar se reivindicando oprimidos e até igualarem-se em condição a outros realmente oprimidos, por qualquer coisa individual que seja, e usarem confusão pra distorcer todo debate, principalmente banalizando e distorcendo a idéia de que 'O Pessoal é Político".  E inclusive pessoas sentindo-se oprimidas individualmente (na realidade muitas vezes, de fato, agredidas egoicamente porque foram chamadas em seus privilégios por alguém que realmente pertence a grupos oprimidos e marginalizados) ou reprimidas (as vezes pela tal 'Polícia Feminista', conceitinho agora em moda pra dispersar qualquer debate e responsabilização pessoal nas nossas merdas, e diluir algo básico feminista que é de que feminismo é uma prática constante de auto-questionamento, reflexão e desconstrução) chegam a criar uma proto-política de identidade em cima disso... tipo agora por exemplo garotas poliamor são um grupo e são oprimidas por lésbicas e sua identidade fixa...!

Deixo aqui uma reflexão de bell hooks para essas garotas, já que não consigo ser ouvida me parece ou manejar direito a palavra as vezes de modo a ser plenamente entendida:


"feminismo como estilo de vida levou à noção de que poderia haver tantas versões de feminismo quanto houvesse mulheres. de repente, a política foi lentamente removida do feminismo. e a noção imperante foi de que não importa a perspectiva política de uma mulher, seja ela conservadora ou liberal, ela pode encaixar o feminismo em seu modo de vida. obviamente tal noção fez o feminismo mais palatável porque traz dentro de si a idéia de que as mulheres podem ser feministas sem questionar e mudar fundamentalmente a si mesmas ou sua cultura. por exemplo, vamos pegar a questão do aborto. se o feminismo é um movimento para acabar com a opressão sexista, então uma pessoa não pode ser anti-escolha e ser feminista. uma mulher pode ser veemente em dizer que nunca escolherá por fazer um aborto ao mesmo tempo em que afirma seu apoio ao direito que as mulheres têm de escolher abortar e ainda ser uma ativista de políticas feministas. ela não pode ser anti-aborto e ser uma ativista feminista. da mesma forma, não pode haver algo como "feminismo de poder" se a visão de poder evocada é poder conseguido graças à exploração e opressão de outras pessoas.

as políticas feministas estão perdendo terreno porque o movimento feminista perdeu definições nítidas. nós temos essas definições. vamos retomá-las. vamos compartilhá-las. vamos começar de novo. vamos fazer camisetas e adesivos de pára-choque e cartões postais e hip-hop, comerciais de televisão e rádio, anúncios em todo lugar e em outdoor, e todo tipo de material impresso que fale para o mundo sobre feminismo. nós podemos compartilhar a mensagem, simples mas poderosa, de que feminismo é um movimento pela eliminação da opressão sexista. vamos começar com isto. deixar o movimento recomeçar." - bell hooks, políticas feministas






macharquistas (ou 'homens radicais')

Pessoas, eu queria entender por que eu me sinto agredida por essa imagem abaixo:



Eu vi isso e automaticamente achei um des respeito e uma coisa machista, mas acho que no contexto que vivo bombardeado pelo feminismo póspósposss minha reação seria tachad
a de discriminatória. Aí pensei um pouco, eu não sei se é justo traçar um paralelo, mas assim, minha condição de gênero é bastante opressiva. Chega um macho e faz 'performance' se apropriando dos signos opressivos para mim, impostos por uma sociedade machista, e diz que "gênero não existe" (discurso que faz com que eu seja tachada de essencialista se eu digo que eu o vivo na pele, e que faz eles esconderem privilégio e nos calarem dizendo que 'eles não tem gênero'). Sinceramente, eu acharia agressivo e des respeituoso se eu quisesse 'apoiar' pessoas negras e afro-descendentes e pintasse meu rosto de negro, usasse roupas características de sua tradição e identidade, e posasse com um cartaz escrito "Foda-se a raça", mesmo para apropriação de coisas da cultura de povos originários, e outras. Por que a coisa inverteu e quem é intolerante agora é quem acha esse tipo de discurso abaixo opressivo e sem responsabilização real que era o que esperavamos que homens solidários pudessem fazer, reconhecendo seus privilégios?


De repente meu analise está errado com a comparação entre raça e sexo que pode ser oportunista. Mas ainda assim vou manter aí vocês me ajudam qualquer coisa.

Outra é que esse tipo de vestimenta e tal é construida pelo patriarcado, a própria feminilização, não é parte de uma cultura nossa no caso, mas ainda assim muitas mulheres não possuem escolha senão vestir-se assim, nós feministas ainda escolhemos e com alguma dificuldade, não nos depilar e etc, e algumas que mantemos muitas caracteristicas da feminização e recusamos um feminismo misógino que cria uma cobrança de renunciar a socialização pra sermos "mulheres reais" ou "fortes", e ourta também acho agressivo com travestis e transexuais esse tipo de performance de gênero. Nota-se que o sujeito não está em transição nenhuma, deve ser até mesmo ht, e mesmo que seja gay é um homem gay, memso que queira renunciar a masculinidade eu acho um absurdo porque ele ainda retém privilégio de sua masculinidade, sabe depois ele tira essa roupa toda e é "homem", pra ele eh uma escolha e inclusive um privilégio, fica engraçado, ridículo, etc, e heróico fazer isso, e pra gente nao, a gente nao tem como simplesmente tirar uma roupagem e andar na rua sem ser um alvo ou sermos a categoria social 'violável'. Portar um gênero é semelhante a um estigma, eles não vivem essa condição. Ainda é patético, eles podem se apropriar, achei inclusive misógino sei lá, eu sempre acho agressivo quando homens se vestem de mulheres, é geralmente uma arma de humor normativo a coisa de homens se vestirem de mulher, porque é engraçado, coisa que só reafirma os lugares de sexo existentes.

Ser feminina não é uma escolha. As mulheres ht no mercado de trabalho predatório, que tem que esconder sua orientaçao sexo afetiva, sua masculinização, ou serem obrigadas a serem apresentáveis... não há tanta escolha assim. É muito difícil superar essa socialização. a gente se propôe mas é um processo largo desconstruir. 


A adoção de queer e de performatividade para distrair da posição de privilégio que ocupam por parte de homens libertários é ainda  uma expressão da heterossexualidade masculina, de modo a não perderem seu direito de acesso as mulheres que é a posição básica de privilégio conferida pela masculinidade. Por isso falam que não existe mais gênero. Assim novamente eles podem nos mandar à fogueira por 'excluir' eles... e continuam movendo as garotas umas contra as outras, com o resquício de colonização da feminilidade que resta em todas, que voltam elas em umas polícias do ativismo não divisionista e excludente, do essencialismo feminista.


Pra mim esse ato, vindo de homens que ocupam privilégio, é violação em metáfora e invasão de outro modo, é ainda mesma estética, de apropriação dos corpos de mulheres, e invasão de seus espaços. De minar espaços e encontros onde a existência masculina não seja possível. Também é um modo de apagar as mulheres, de negar lesbianismo tambem e impedir que este apareça para ameaçar eles.

Os homens se sentem mais "livres" se vestindo "de mulher", coisa de quem ocupa posição de privilégio. As pessoas confundem opressão com repressão, e num paradigma liberal tudo vira repressão e agenda de direitos, e até identidades, nao tem mais nada haver com grupos concretamente oprimidos. Parece que agora qualquer coisa pode virar uma identidade ou política de identidade, e reclamar uma agenda de direitos... (até o feminismo totalmente arbitrário de 'cada um com seu feminismo' é um estilo de vida).


O fato da imagem ser "sarcástica" e causar tipo surpresa, tipo como algo anormal, bizarro e até mesmo engraçado ou ridículo, só reforça a construção de que o natural é que ele é homem. Essa imagem nao desconstrói nada. Só reforça privilegio masculino. Heterossexuais sempre fazem festas de trocar roupa, sempre vira uma coisa reaçionária pra quem já foi em uma, inclusive homo e lesofobica, com as garotas hetero fazendo estereotipos grosseiros das mulheres lésbicas e masculinizadas, e os caras que se fazem de gays e depois no outro dia voltarão a ser homem, sabe tudo aquilo é só "zoera", a heterossexualidade está garantida... pra quem é bicha e sapatão isso não é uma comédia, a gente não tem conformidade de gênero já, e isso não é engraçado, pra eles é. Essa é a diferença. Isso é sobre o que privilégio e tê-los é.

terça-feira, 17 de julho de 2012

reflexões sobre masturbação e necessidade do resgate da solidão como resistência política das mulheres novamente

Somos construídas de uma maneira onde a coisa sempre está fora, não dentro da gente. Sempre externo. Sempre no Outro e não na gente. Neste sentido a masturbação é tão radical quanto o lesbianismo. A independência real e construção de relações mais sadias, melhores escolhas e mais segurança dependem de que nossa vida sexual e afetiva com nós mesmas seja melhor que com outra pessoa, como vai ser a Outra pessoa a fonte de sua sexualidade, auto conhecimento, prazer? Isso não existe, foi criado para que existam pessoas mais subordináveis. A vida sexual com demais pessoas não passa da própria vida sexual compartilhada, mas a 1a é a nossa própria vida sexual. Recuperar a masturbação de um modo feminista e radical é resistir ativamente ao autoritarismo. O Outro é um autoritário, principalmente nas realçoes existentes e nas auto-relações existentes (relação de uma consigo mesma), não se supera as relações de poder sem superar nossa própria colonização por ele. Individualidade libertária exige que a fonte da sexualidade seja retraçada e destruido o imaginário que relaciona a sexualidade com a busca externa, destruindo a colonização do espaço auto-sexual com essas construções que o traçam como um substituto, como precariedade, com pornografia e imposições comerciais, além de seus usos pelo sistema sexual existente, por exemplo na promoção da erotização da [própria] opressão.
“O que você ouve na minha voz é fúria, não sofrimento. Raiva, não autoridade moral”. Audre Lorde

poema desconstrutivista

Pós-mortem pósmodernista

Eles vieram de Maori
então eu desconstrui a colonização
E eles vieram das mulheres
então eu desconstrui gênero
Eles vieram dos trabalhadores
então eu desconstrui classe
E eles vieram das lésbicas e gays
então eu desconstrui sexualidade
Eventualmente
A despeito de eu desconstruir a eu mesma
tão minuciosamente
que eu nem mais existia
elas vieram para mim



Treason '98

consenso ou consentimento?

Qual conceito é pior, consenso ou consentimento? Pensava que o último era muito contratualista e machista, e implicava coerção, mas o consenso também remete a âmbitos de decisão coletivizada onde desaparece a individualidade. O consentimiento neste caso remete a campo de poder individual de decisão. Mas eu ainda não gosto de nenhum. "Consensual" me remete a algo mais igualitário, construído conjuntamente e democrático que "consentido" que parece responsabilizar a vítima ou pôr tudo em cima do sujeito (ele tem agência, sabe o que tá fazendo, está decidindo que arque com as consequencias).

Achei um poster interessante ontem, uma das primeiras coisas que vi criticando o processo de acontabilidade visivelmente, por not your cyster press. Segue abaixo, logo uma tradução (tamanho maior aqui, o pdf do cartaz).



"Toque me e eu te mato" "o processo de responsabilização é uma fraude porque muitos sobreviventes são forçados a re-viver seus assaltos sempre e sempre, e estupradores e assaltantes sexuais são dados um passe em sua violência, acontabilidade comunitária é uma mentira porque a comunidade em si mesma é uma mentira. Ao invés disso, nós oferecemos uma solução modesta para o processo que cria e mantém nossa vitimização: Vamos recusar-nos a sermos vítimas. Vamos fazê-los sofrer."


Acho tendenciosa a justiça transformativa. Mas isso não significa que não seja necessário fazer o debate sobre um feminismo aboliconista penal e carcerário. Formas de justiça popular e comunitária são possíveis e melhores. Mas devem estar nas mãos das mulheres e visar que os homens perdam. Isso rende outro post sobre feminismo anti penal.

Sobre a morte de Marília no Rio +20 e a relação cultura do automóvel com Patriarcado, por um feminismo ciclista!

completa um mês já da morte de Marília, uma estudante de artes plásticas na URGS, que conheci a uns anos atrás acampando no Vale da Utopia, foi fatalmente atropelada no Rio +20 agora. Essa é uma foto que tirei dela. Foi organizado um ato, houve repressão policial.

Mais uma morte no trânsito. Quantas serão precisas para que essa cultura estúpida do automóvel mude? Os assassinatos nos trânsito por essas máquinas fálicas estão até normalizadas, e a culpa é dos ciclistas? Uma estudante cheia de criatividade, ativa politicamente, com muito a desenvolver, perdemos pessoas assim pra que os carrocratas burgueses sigam fazendo merda como se fosse comum e fosse seu direito conduzir-se assim? Quando haverá responsabilização no trânsito por parte dessas máquinas de matar que são os automóveis? Quando a sociedade vai passar a rejeitar a cultura do automóvel e apoiar verdadeiramente os ciclistas?
 

Devo ainda algo bem escrito sobre cultura do automóvel e patriarcado. Mas por hora, exercício de desconstrução:


- Não existe "Acidente". Existe "Assassinatos" no trânsito.
- O motorista é responsável e assassino, agressor, não o ciclista é um idiota.
- Não existe "O transito está terrível", como se fosse este um evento da Natureza, um desastre ambiental que sempre estivesse existido. O Trânsito - entidade deística - não é um evento natural e as mortes de ciclistas não são mortes naturais por esta entidade descontrolada. Há sujeitos no trânsito, e que o fazem possível. (e este podia até mesmo desaparecer se houvesse recusa a termos um carro, e apoiar as grandes corporações e outras merdas envolvidas e relacionadas).
- Párem de lamentar passivamente assassinatos no transito como eventos fatais da natureza do trânsito, sintam raiva ao invés de lamentar pelo menos.
- Não é uma condição natural da bicicleta a "exposição", com as mortes-assassinatos de ciclistas como uma consequencia de seu próprio estatuto 'vulnerável'.
- As mortes de ciclistas não são causalidades inerentes à condição de vulnerabilidade ciclística. Vocês estão com isso, naturalizando a própria cultura do automóvel, inerentemente esta sim, violenta.
- Responsabilização no trânsito e a idéia destruída de que o espaço público pertence a tod*s, e não é das corporações mundiais do petróleo, vendedoras multinacionais de automóveis, corporações interessadas em produzir mais rodovias, a idéia pelo menos de que o motorista tem que aceitar que tem que dividir a rua com a multiplicidade de sujeit*s e formas de locomoção existentes e não somente a normativa-capitalista-ecofóbica-supremacista masculina do automóvel.
- O ciclista sofre discriminação porque é o "outro" e a diferença no trânsito, querem reagir à diversidade e instaurar a homogeneidade do automóvel, cada vez mais carros na rua e perda da autonomia social.

Politizem a hostilidade no trânsito, gerem o debate, tirem do campo da normalidade e da naturalização. Reajam e exijam compromisso com a locomoção responsável. Politizem o uso da bicicleta, usem a bicicleta como forma de resistência, ocupem a rua, sejam solidári*s com outr*s ciclistas, sejamos visíveis, presentes, eduquemos a sociedade, compartilhemos sobre segurança no trânsito, vamos arriba!


mais sobre isso da supremacia falocrática masculina do automóvel há um post Julie somos todas ou Nossa barricada de duas rodas.

intelecto proibido a oprimida

"Um exemplo deste tipo de revelação/conceptualização ocorreu em uma juntada na qual discutimos as maneiras em que nossos interesses intelectuais haviam sido atacados por nossos iguais, em particular pelos homens Negros. Todas descobrimos que porque eramos “inteligentes” também nos consideravam “feias”, isso é, “inteligente-feia” Ser “inteligente-feia” pôs em evidência que todas havíamos sido obrigadas a desenvolver nossos intelectos ao grande custo das nossas vidas “sociais”. As sanções das comunidades Negras e brancas contra as pensadoras Negras são muito altas em comparação às mulheres brancas, em particular às educadas de classe média e alta." (manifesto rio combahee river)



Os homens sempre são massa quando são intelectuais. A identificação com a intelectualidade é uma linguagem da guerra (vencer, retórica, argumentos, disputa, lógica, razão). garotas burguesas privilegiadas também são maneiras quando são principalmente queer-academicas com vocabulario arrojado falando só o que o sistema quer ouvir. o conhecimento que parte de nossa experiência, vivência e corpo sempre foi desvalorizado. daí partiu a teoria feminista. falam que somos ilegítimas e desqualificadas em nosso 'método'. Que o feminismo antigo é ilógico (segunda onda), essencialista, universalizante, e qualquer outra nota de não ter passado no exame vestibular da pertença ao patriarcado branco neoliberal. ser mulher pensante de verdade é arriscado. Se ainda pensamos o que o sistema quer, nos gratificam. Não ser pertencente à verborragia trendie burguesa pseudo-prog universitariazante significa não ser ouvida e não estar dizendo nada. 'a mulher não existe', afinal.

por que anarquismo adotou queer

pergunta da minha amiga: "por que os anarquistas adotaram o queer?", e "mas o anarquismo critica as modas, por que?". Bom eu acho que somos capazes de responder essa questão. Que vocês acham?

minha tese é de que as esquerdas, assim como os estados, as instituições, e todo mais que seja dominado por homens, valem-se do conceito de gênero e do inclusivismo acrítico queer já que, emfim são dominados por homens. Também não é mais preciso brigar pelos próprios espaços, ficarmos feias e mau com ninguém. depois eu acho que o anarquismo virou uma moda e foi comercializado também e foi apropriado pelo mercado, então as duas coisas andam juntas.

(emfim parágrafo anterior pode ser extendido e elaborado na reflexão)

O que queria mesmo entender é como desde as experiências mais clássicas do anarcofeminismo, abolicionistas, seja emma goldmann a mujeres libres, os 'anarkxpomo' foram virar legalistas da prostituição e adotar a história de 'trabalhadoras sexuais'. Pra mim isso também tem haver com dominancia masculina anarquista e o heterocentrismo das anarkafeministas (mesmo as bissexuais e 'lésbicas' que talvez não cheguem a identificar-se assim). Não entendo porque as companheiras jogam fora sua história na real, se a história de mulheres anarquistas, libertárias e revolucionárias está marcada pelo separatismo e pela autonomia em relação aos homens, e na abolição da prostituição. Emfim vamos resgatar nossas herstórias...

nascer mulher não é privilégio...

É um erro dizer que as feministas que nascem no corpo mulher são cis. Se a definição de cis é 'eu me identifico com meu gênero social ou atribuído ao nascer' (??) isso é totalmente falho se o marco feminista é, 'não se nasce mulher, se torna' ou seja, 'a noção radical de que as mulheres são pessoas', o que feministas não querem e sua luta é por se des-identificar do gênero, ou seja do feminino, do que o heteropatriarcado nos atribuiu e como isso nos construiu. Uma luta de toda vida por descolonizar-nos, de nos fazermos feministas, pessoas, humanas. Eu não me identifico com meu gênero nem nunca me identifiquei, isso me fez feminista, e lutamos por não reproduzí-lo em nossas condutas e nossas práticas, pois estão no marco masculino, já que quem criou o feminino foram os homens. Eu sou mulher como uma categoria social e historicamente oprimida, compartilho essa opressão com outras sujeitas, não significa que essa categoria é indiferenciada nem que a opressão seja exatamente a mesma, mas tem uma mesma origem. Então eu não sou cis nem trans, eu sou feminista, e lesbiana, porque ouso escolher as mulheres assignadas mulheres, coisa que também rompe o marco simbólico atribuído a nosotras.



Ninguém tem direito de dizer que e quem eu sou, só eu mesma e meu coletivo em comum podemos nos auto-definir, se não é essa nossa briga. Nenhum grupo estranho a mim pode reivindicar o poder de me definir. Se o faz isso é o machismo, porque os homens e outros além de nós mesmas sempre nos definiram. É nossa morte simbólica outra vez.


Sobre isso, diz margarita pisano:

"Es muy importante diferenciar claramente lo que significa tener un cuerpo de mujer del ser femenina. El ser femenina es una ambigua y arbitraria construcción simbólica/valórica patriarcal que, obviamente, no hemos construido nosotras. Entonces hablar de lo femenino es hablar de una ajena, una otra construida por un otro, una representadora y no genuina productora de sí misma. La supuesta lealtad de género está conectada a lo femenino, al género, que en sí mismo no tiene la capacidad de la lealtad puesto que está construido en la descalificación de la mujer como ser libre. Justamente por la fragilidad del inicio de reconstruir una simbólica con este cuerpo tan significado por otros es que es importante despejar estas supuestas lealtades. Para la deconstrucción de la feminidad hay que sospechar de todo. Para abrir espacio a un cuerpo con sexo mujer, sujeto pensante, social y político, productor de (una otra) cultura, será necesario, entonces, mujeres que están dispuestas a desprenderse de la feminidad. Algunas mujeres –al descubrir su capacidad de pensar- corren donde los legítimos pensadores, los varones, para que las reconozcan como pensantes, porque como amantes, como madres, no lo necesitan, está reconocido: está en el sentido común que las mujeres somos naturaleza, que nuestra misión del corazón, no de la razón; un corazón que late sin la voluntad de lo humano, excedido, salido del cuerpo, somos la sensibilidad. También está en el sentido común que el varón tiene corazón, pero con cabeza, sentimientos con cabeza; tiene cuerpo y sexualidad con cabeza; aunque a veces para lograr lo que quiere dice que perdió la cabeza. Porque la tiene se la puede sacar, pero un corazón sin cabeza nunca se la puede sacar. La regalona de papá solidariza con las mujeres sólo en tanto las mujeres se mantienen dentro del orden simbólico de la feminidad. Si ella solidariza más allá pierde el reconocimiento de papá. Este es un momento crítico, aquí hay un límite. Es el momento en la traición es posible. A esta situación están expuestas especialmente algunas mujeres que han hecho camino en el feminismo y que, sin embargo, sin la cobertura de las opiniones masculinas temen exponerse. " (em As regalonas del patriarcado)
 


Se alguém além de eu mesma, me identifica, isso é uma violência. A primeira violência que nos é feita é nos identificar como mulheres, ao nascer já furam o lóbulo das nossas orelhas para isso, para nos 'diferenciar' e sofrermos essa socialização escrota. Nossa luta é por identificar a nós mesmas, fora do marco feminilidade, de nos apoderar-nos de auto-definição, re siginificar mulher como coletivo político, eu não me desfaço dessa categoria, mas da feminilidade sim.

Qualquer Poder que queira me identificar é violência e é instrumentalizar-me outra vez para fins alheios a mim e meu coletivo. nascer mulher não é nenhum privilégio, se descobrem e me leem como mulher desde que fazem o ultrassom, já foi receber uma socialização de merda pra que nao desenvolva muitas capacidades humanas que tenho, vão me dar brinquedos específicos e cores e discursos que me colocarão em determinado lugar, que depois haverá muito custo romper. Emfim eu acho que não podemos perder esse marco importante feminista, de que não há privilégio reverso ou em ser mulher... não quero dizer com isso que mulheres não reproduzam merdas, mas não existe privilégio porque coletivamente não há, por gênero. Por classe, cor, mulheres podem ter privilégio, mas por gênero não. Mas posso entender a necessidade de nomear a falta de privilégio de estar na condição travesti. não quero dizendo isso, invisibilizar opressão de ninguém, mas não podem construir neste marco conceitual, porque começa a me soar algo misógino ou mesmo me soa que as mulheres se apagam mesmo ao dizer que seus corpos são privilegiados por serem o que são de nascença. Nesta sociedade não o são. O estuprador sabe identificar-me como portadora de vagina por nascimento.
"Como o papai não reconhece o coletivo mulher em sua capacidade pensante, senão que à sua 'filha', esta adquire uma liderança não compartida. Ao assignarse fazer política para as mulheres através do poder que les deu o papai, algumas mulheres adquirem poder sobre o coletivo de mujeres, mas não fazem política de mulheres e desde as mulheres."


 - margarita pisano, as regalonas do patriarcado



(isso explica a fundo a institucionalização, a incapacidade de encontrar-nos (a auto-destruição dos encontros e espaços de mulheres), nossa aceitação dos teóricos gays e masculinos da pós-modernidade e nossa apenas capacidade de legitimação por meio deles e das vozes masculinas (derrida, foucault, deleuze), nossa identificação com a masculinidade pensante e aceitação destas mulheres neste marco simbólico (butler, preciado, aquela das masculinidades lésbicas), nossa briga entre nós mesmas para sermos as únicas e as verdadeiras-feministas, nossa colonização pela heterosexualidade obrigatória acadêmica, institucional, estatal, emfim nossa incapacidade de fugir profundamente do marco simbólico patriarcal: a feminilidade).

judith butler em como as identidades criam 'novos armários'

Vejam o que sai na "Página 12", um jornal 'progressista' argentino bastante lido (semanas atrás saiu uma matéria sobre as 'trabalhadoras sexuais' estarem se levantando em sua autonomia apesar das feministas abolicionistas fecharem os bordéis dos cafetões, pobres coitados né), uma nota chamada "Sair da Onde?" sobre Judith Butler, teoria queer e outras coisas:

"O quê ou quem é isso que está fora, feito visível completamente manifesto quando e se eu revelo a mim mesma como lesbiana? Que é o que se sabe agora? Algo?... Se proclamo que sou lesbiana, saio de um armário somente para criar outro armário novo e diferente" judith butler


Será que só eu consigo achar que já ouvi isso vindo de heterossexuais e completamente homo e lesbofóbico? As lesbianas vejam só, ao sairem do armário e se assumirem e serem visíveis, criam um novo armário! As políticas de identidade são meras 'caixinhas' e estão 'ultrapassadas', elas são novos armários onde homossexuais, lésbicas e  travestis se metem voluntariamente sabe...


Eu já escutei também em algum lado que, principalmente vindo de brancos, o negro ou a negra quando se reivindica negro ou negra é 'racista ao contrário' ou tá reforçando o racismo. Afinal sabe, 'somos todos iguais'... democracia racial... pior tipo de mansplaining que ja vi...


O que penso é que qualquer discurso que aponta a invisibilidade social de grupos é reacionário. Não importa nome bonito que leve (queer) ou seus autores sejam muito eruditos (butler, preciado, aquela das masculinidades lésbicas, mil outros novos que aparecem sempre). Dizer que as identidades são novos armários é um discurso hetero. O racismo também é querer ignorar que há cores. Esses discursos costumam apelar a um 'voluntarismo' dos sujeitos, exemplo 'o próprio negro se discrimina'. Quem não quer reivindicar uma identidade que já tem porque isso é divisionista assumiu um discurso do sistema e precisa superá-lo. Quem não tem consciencia de sua própria identidade está totalmente vulnerável, e quem não precisa ter essas identidades, que são brancos, heteros e homens, não sabe que é estar vulnerável. Fica ainda mais difícil superá-lo se existem novos discursos pra que as pessoas fiquem disfarçando a realidade de sua opressão. Não sei onde que eu vi dizerem que algo muito comum ao oprimido é negar sua própria opressão, e isso é parte da própria opressão que sofre.


Já deu gente. Não vamos adotar porque agora estão embelezadas ou fica lindo, nos sentimos aceitad@s e ainda me protejo da discriminação e exposição da visibilidade nas instituições homo e lesbo fobicas como a Academia e demais.