segunda-feira, 23 de julho de 2012

poliamor não pode ser um projeto lésbico ou feminista, pois sua origem é hetero-masculina-esquerdista e não genuinamente nossa. Precisamos de expressões próprias e novas de relações


Com relação à "amor livre" e "poliamor", minha ética feminista é ética de [auto] cuidado, e vem primeiro, porque mulheres vem primeiro para as éticas feministas e lésbicas. Porque a história e herstória nos mostrou que se não lutamos por nós mesmas, ninguém o fará, e não podemos esperar das revoluções, partidos, estados e organizações mais que a apropriação do nosso trabalho revolucionário no mais das vezes, assim que colocamos o feminismo e as mulheres em primeiro, nos colocamos em primeiro.

Porque é assim a ação direta de mulheres para desconstruirmos o ódio entre nós, contra nós e auto-ódio. Então eu me cago na ética anarquista, liberal. Poligamia é e foi o regime mais comum do Patriarcado, no qual se baseava a estrutura do harém. O acesso a muitas mulheres é de uma tradição machista.

Acredito que o medo a intimidade, que já vem herdado das relações capitalistas e de propriedade privada (bem disseram os teóricos do absolutismo e marquês de sade outro teórico que funda a modernidade, "o homem é o lobo do homem" na ideologia desta ordem social em que vivemos, o outro é um estranho e não me reconheço nele, mais fácil me identificar com o discurso da empresa que com @ outr@ trabalhad@r), é potencializado pelas políticas pós-modernas sexuais que vêm colonizando as comunidades lésbicas e lGBT. Seja com as teorias queer ou com outras ondas de pós-porno, etc. A promiscuidade se tornou uma agenda política de primeira ordem no lesbianismo, tanto que em alguns encontros o único que se debate agora são práticas sexuais, reproduzindo novamente a idéia hetero-patriarcal de que lesbianismo não é sobre resistência política e sim sobre sexo, logo, nada ameaçante a sociedade.


A destruição da possibilidade de cumplicidade íntima entre mulheres é uma maneira de destruir nossas comunidades e à nós mesmas, reduzindo a sexualidade a um mecanicismo grosseiro e impedindo vinculos profundos entre mulheres. Recuperando as sensações de medo e competição que já vem nos destruindo como comunidade de mulheres.

Considero quase sempre a relação aberta, uma forma de agressão e tortura psicológica mutuamente consentida num contrato coercitivo liberal e machista. Vejo que historicamente, as mulheres não tiveram segurança. Elas não podem esperar nada de um relacionamento também, ainda mais depois da contra-cultura sexual dos 70, é ser retrógrada não aceitar ser mais um objeto de troca entre homens liberados. Essa liberação privilegiada-masculina deles não é a mesma liberação que nós necessitamos.

Não temos construções de relações substanciais porque são uma ameaça ao sistema. É preferível que nos instrumentalizemos.

Relações são sobre responsabilidade, segurança, contenção também, e precisamos admitir isso. Neste mundo lesbofóbico, misógino e de capitalismo extremamente violento e vulnerador, temos necessidade de amparo mútuo e comunitário acentuado.

Emprestar expressões machistas e masculinas de anarco-movimentos já criticados pelas mulheres que neles estiveram na história, e principalmente da contra-cultura sexual (Revolução Sexual) dos 70 que não passou de um Backlash às mobilizações e avanços feministas e de mulheres, possui riscos para nós. E não passam senão de uma estratégia machista pra colonizar nossas comunidades com ódio mútuo.


Pra muitas feministas, a alternativa à relação de "pareja" é a pobreza relacional, como maneira de proteção pessoal bastante liberal. Eu não tenho nenhum acordo com essa história de que temos que ser "sozinhas", "autônomas" num sentido bem pervertido e liberal, que é o de 'única culpada de tudo'. "Lide isso você mesma". A raiva de mulheres é justificada, muitas vezes o que chamam de ciúme é reivindicação de responsabilidade e igualdade de decisões em uma relação, compromisso com o que os vínculos implicam. E implicam muita coisa.


Ninguém é 'sozinha', no sentido liberal, de que existe uma auto-subsistência totalmente individual. É preciso redefinir autonomia para não cair nos paradigmas falsos liberais que pretendem culpar a vítima e desolar sujeitos. É certo que sem sujeito não há libertação, mas tampouco sem comunidade não há libertação real e coletiva.


Sob capitalismo o apoio mútuo da relação amorosa se impôe como necessidade de auto preservação, auto defesa e sobrevivência, isso pode implicar mais vulnerabilidade e relações de dependência que podem gerar desamparo e violência doméstica, isolamento.


Minha proposta é que ao invés de uma parceria amorosa única, as lésbicas possam ter acesso a uma comunidade de mulheres onde se sentirão fortes, seguras e inteiras. Assim se quebra a monogamia, não com polícia moral anarquista e suas teses falcatruas de sempre.

O conceito de "parejo", muito criticado em língua espanhola para referir-se às relações de dependência mútua ou de simbiose dissolutiva do individual, para mim não remete somente a essa noção demonizada por feministas [liberais] e anarquistas, e sim se algo é "parejo", é porque está "igual", ou seja, "igualitário", se diz. A idéia de que "a pessoa que se arranje, os sentimentos de insegurança são delas" é incrívelmente anti solidario e liberal "isso é problema seu", foda-se você. Já a idéia de fazer toda essa merda com "cuidado" me parece o mesmo que violar com "cuidado", para que o escravo sinta-se satisfeito com o tirano da relação. A raiva de mulheres e lésbicas com esse tipo de hostilidade me parece justa, é a raiva da injustiça de coisas que não são igualitárias, que chamam 'ciúme', termo naturalizante. 



Comparar o 'ciúme' com a violência machista me parece ridículo, que é uma política de ódio e não vem da natureza. Mulheres precisam sentir segurança, vivemos em contextos de vulnerabilidade. Homens não sentem isso, sentem necessidade de assegurar sua Masculinidade que se expressa pela apropriação das mulheres, seu controle e seu acesso. O término da relação é mais revolucionário que a reformação com a relação aberta. A primeira é ataque frontal a monogamia, a segunda é um reformismo grosseiro.




(reflexões não teminadas e em processo de construção)

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