terça-feira, 17 de julho de 2012

nascer mulher não é privilégio...

É um erro dizer que as feministas que nascem no corpo mulher são cis. Se a definição de cis é 'eu me identifico com meu gênero social ou atribuído ao nascer' (??) isso é totalmente falho se o marco feminista é, 'não se nasce mulher, se torna' ou seja, 'a noção radical de que as mulheres são pessoas', o que feministas não querem e sua luta é por se des-identificar do gênero, ou seja do feminino, do que o heteropatriarcado nos atribuiu e como isso nos construiu. Uma luta de toda vida por descolonizar-nos, de nos fazermos feministas, pessoas, humanas. Eu não me identifico com meu gênero nem nunca me identifiquei, isso me fez feminista, e lutamos por não reproduzí-lo em nossas condutas e nossas práticas, pois estão no marco masculino, já que quem criou o feminino foram os homens. Eu sou mulher como uma categoria social e historicamente oprimida, compartilho essa opressão com outras sujeitas, não significa que essa categoria é indiferenciada nem que a opressão seja exatamente a mesma, mas tem uma mesma origem. Então eu não sou cis nem trans, eu sou feminista, e lesbiana, porque ouso escolher as mulheres assignadas mulheres, coisa que também rompe o marco simbólico atribuído a nosotras.



Ninguém tem direito de dizer que e quem eu sou, só eu mesma e meu coletivo em comum podemos nos auto-definir, se não é essa nossa briga. Nenhum grupo estranho a mim pode reivindicar o poder de me definir. Se o faz isso é o machismo, porque os homens e outros além de nós mesmas sempre nos definiram. É nossa morte simbólica outra vez.


Sobre isso, diz margarita pisano:

"Es muy importante diferenciar claramente lo que significa tener un cuerpo de mujer del ser femenina. El ser femenina es una ambigua y arbitraria construcción simbólica/valórica patriarcal que, obviamente, no hemos construido nosotras. Entonces hablar de lo femenino es hablar de una ajena, una otra construida por un otro, una representadora y no genuina productora de sí misma. La supuesta lealtad de género está conectada a lo femenino, al género, que en sí mismo no tiene la capacidad de la lealtad puesto que está construido en la descalificación de la mujer como ser libre. Justamente por la fragilidad del inicio de reconstruir una simbólica con este cuerpo tan significado por otros es que es importante despejar estas supuestas lealtades. Para la deconstrucción de la feminidad hay que sospechar de todo. Para abrir espacio a un cuerpo con sexo mujer, sujeto pensante, social y político, productor de (una otra) cultura, será necesario, entonces, mujeres que están dispuestas a desprenderse de la feminidad. Algunas mujeres –al descubrir su capacidad de pensar- corren donde los legítimos pensadores, los varones, para que las reconozcan como pensantes, porque como amantes, como madres, no lo necesitan, está reconocido: está en el sentido común que las mujeres somos naturaleza, que nuestra misión del corazón, no de la razón; un corazón que late sin la voluntad de lo humano, excedido, salido del cuerpo, somos la sensibilidad. También está en el sentido común que el varón tiene corazón, pero con cabeza, sentimientos con cabeza; tiene cuerpo y sexualidad con cabeza; aunque a veces para lograr lo que quiere dice que perdió la cabeza. Porque la tiene se la puede sacar, pero un corazón sin cabeza nunca se la puede sacar. La regalona de papá solidariza con las mujeres sólo en tanto las mujeres se mantienen dentro del orden simbólico de la feminidad. Si ella solidariza más allá pierde el reconocimiento de papá. Este es un momento crítico, aquí hay un límite. Es el momento en la traición es posible. A esta situación están expuestas especialmente algunas mujeres que han hecho camino en el feminismo y que, sin embargo, sin la cobertura de las opiniones masculinas temen exponerse. " (em As regalonas del patriarcado)
 


Se alguém além de eu mesma, me identifica, isso é uma violência. A primeira violência que nos é feita é nos identificar como mulheres, ao nascer já furam o lóbulo das nossas orelhas para isso, para nos 'diferenciar' e sofrermos essa socialização escrota. Nossa luta é por identificar a nós mesmas, fora do marco feminilidade, de nos apoderar-nos de auto-definição, re siginificar mulher como coletivo político, eu não me desfaço dessa categoria, mas da feminilidade sim.

Qualquer Poder que queira me identificar é violência e é instrumentalizar-me outra vez para fins alheios a mim e meu coletivo. nascer mulher não é nenhum privilégio, se descobrem e me leem como mulher desde que fazem o ultrassom, já foi receber uma socialização de merda pra que nao desenvolva muitas capacidades humanas que tenho, vão me dar brinquedos específicos e cores e discursos que me colocarão em determinado lugar, que depois haverá muito custo romper. Emfim eu acho que não podemos perder esse marco importante feminista, de que não há privilégio reverso ou em ser mulher... não quero dizer com isso que mulheres não reproduzam merdas, mas não existe privilégio porque coletivamente não há, por gênero. Por classe, cor, mulheres podem ter privilégio, mas por gênero não. Mas posso entender a necessidade de nomear a falta de privilégio de estar na condição travesti. não quero dizendo isso, invisibilizar opressão de ninguém, mas não podem construir neste marco conceitual, porque começa a me soar algo misógino ou mesmo me soa que as mulheres se apagam mesmo ao dizer que seus corpos são privilegiados por serem o que são de nascença. Nesta sociedade não o são. O estuprador sabe identificar-me como portadora de vagina por nascimento.

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