sábado, 16 de junho de 2012
Impedir consciência de classe/ da opressão (coletiva)/ consciência coletiva/ políticas de identidade é a maneira de impedir que sujeit*s descubram que não possuem liberdade e que precisam traçar uma luta coletiva. Performance, queer, feminismo fun individualista e coisas na perspectiva de transformar qualquer coisa no âmbito privado numa "agenda de direitos" e qualquer prática privada numa "minoria", e inverter grupos com privilégios em oprimidos, na perspectiva da "restrição da liberdade" (não sendo a toa que as primeiras paradas gays dos EUA tinha participação de grupos pedófilos organizados, para quem quiser ler sobre isso busque artigo de Adrienne Rich, Sobre Mentiras, Segredos e Silêncios), com relativismo extremo, são ilusões do exercício democrático oferecidos pelo sistema liberal globalizado que permaneceu como a única alternativa possível de sociedade livre, capitalista, e só grupos com poder de definição da realidade bancado pelo privilégio material de classe e de cor podem usufruir da comodidade "democrática" no sistema capitalista. E o restante, os movimentos populares sociais, os Estados prog coptam... e a burguesia progressista se entretém com marcha das vadias, marcha lgbt, a única beneficiária desse sistema podre, a única responsável de colonizar com suas merdas teóricas.
Marcadores:
3a onda,
agência,
escolhas,
gênero,
lesbianismo político,
LGBT,
liberalismo,
marcha das vadias,
políticas de identidade,
políticas queer,
pós-modernismo,
sex-positives
sexta-feira, 15 de junho de 2012
raiva
"Raiva pode libertar você – raiva pode ser o começo de ver e saber suas próprias verdades". - Rebecca Mott, feminista radical e sobrevivente de prostituição.
Marcadores:
abolicionismo,
auto-defesa,
autonomia,
prostituição,
radical,
raiva,
saúde,
segurança,
separatismo,
sobreviventes de abuso e violência,
sororidade
quinta-feira, 14 de junho de 2012
“Qualquer ataque à solteira é inevitavelmente um ataque à lésbica. O direito das mulheres de serem lésbicas depende do nosso direito a existir fora de relacionamentos sexuais com homens. Quando as lésbicas são estigmatizadas e insultadas, então, também, todas as mulheres que vivem independentemente de um homem.”
— Sheila Jeffreys, The Spinster and her Enemies.
— Sheila Jeffreys, The Spinster and her Enemies.
Marcadores:
autonomia,
espaços-somente-mulheres,
identidade lésbica,
lesbianismo,
lesbianismo político,
políticas radicais da masturbação
1o post sobre Políticas Liberais do Consentimento Sexual (pois quero escrever algo longo)
Eu ando bem irada com essa onda agora de consentimento, coisa que anda sendo difundida em meio anarquista principalmente de classe média, atravessado das coisas mais podres e violentas, e agora histórinha de "responsabilização do agressor", que retira todo contexto de Poder Masculino coletivo que femnistas discutiam há anos. 1o, que o prórpio conceito é extremamente machista e nunca poderia ser reivindicado numa política feminista. O conceito de consentimento significa que as mulheres dizem "sim" e podem dizê-lo, a despeito das pressões existentes, acho muito estranho operar com essa história. Outra que consentimento remete a idéia de propriedade, tipo "dou meu consentimento para que use algo x". Então o cerne é bem machista. Vou propôr uma fórmula pra vocês, pra ver se vocês conseguem concluir facinho: os meios dos pseudo libertários dos macho alfa e mulheres colonizadas pela misoginia que se fascinam tanto pela cultura masculina identificada desses espaços como pelos sujeitos e espaços (que são um antro de arrogância e exclusão em muitos níveis) e reproduzem socialização que sofremos de mães, cuidando dos caras dos espaços e etc, como toda esquerda sempre fez com as mulheres, começaram a cada vez mais haver uma visibilidade das agressões nestes ambientes, e típicas histórias conhecidas por muita gente de caras manipulativos com garotas vulnerabilizadas, e mais garotas se organizando mais autonomamente, caindo fora, e, automaticamente você vê circularem várias publicações algumas assustadoras chamadas "10 conselhos para acusados de agressão sexual" onde o cara escreve falando que foi uma falsa acusação mas mesmo assim o herói vai expôr os pontos para recomendar... outros homens acusados a como portarem-se... de modo a que? Já tiveram várias ativistas (Tamara Kooper, Courtney Desiree Morris, coisa que não verão ser difundidas por essa galera) descrevendo suas experiencias de abuso em movimentos ativistas, e elas desmascaram essas pessoas com as condutas abusivas que possuem MESMO, que não é naturalização, e como eles são carismáticos e escrevem literatura sexista ou falam em linguagem emprestada (apropriada das) do feminismo para divulgarem-se como anti-sexistas, emfim e aí eu entro no site dessas distribuidoras """anarquistas""" e se vc vai buscar alguma literatura feminista ali... no máximo vai encontrar uma parte de "genero-queer" e ali você vai encontrar todos os fanzines de "responsabilização"... quando surgem as primeiras denuncias de agressão, já aparecem essas literaturas de responsabilização de agressores e consentimento, não que de repente não tenha um lado de responsabilização (que feministas já discutiam - a responsabilização é serem reconhecidos como agentes da violencia que sao, os homens, e a penalização, porque o contrário respalda comportamento) mas o tema é como toda essa literatura dá a entender que a violência sexual é uma situação totalmente sem contexto de Poder **Masculino** principalmente, que com o papo queer desapareceu e é até crime apontar que são certos sujeitos que instauram socialmente e que efetivam esse tipo de política... ('somos todxs iguais....').
Comecei a ler essa literatura para ver se apropriava alguma coisa para uma oficinas com mulheres lésbicas sobre agressões, mas quando vejo mulheres, principalmente heteros, entrando em contato com essa literatura elas são levadas a pensar... como elas devem delimitar seus limites... e dizer o seu "sim"... honestamente, era o que faltava. Mulheres trabalharem questões para não serem agredidas. Emfim, continuo em outros posts.
Comecei a ler essa literatura para ver se apropriava alguma coisa para uma oficinas com mulheres lésbicas sobre agressões, mas quando vejo mulheres, principalmente heteros, entrando em contato com essa literatura elas são levadas a pensar... como elas devem delimitar seus limites... e dizer o seu "sim"... honestamente, era o que faltava. Mulheres trabalharem questões para não serem agredidas. Emfim, continuo em outros posts.
Processo de Responsabilização? Separatismo do it better!
Na antiga política feminista... se você estava com um agressor... as mulheres podiam estar no âmbito da escolha. Escolher se separar totalmente do agressor, desidentificar-se dele, de projetos conjuntos, de um espaço... formar o próprio. Começar nova vida. Descolonizar-se da misoginia, da heterossexualidade se possível...
Hoje com o papo queer, os agressores devem sofrer um "processo de responsabilização" e serem até mesmo perpetuados num espaço politico... a menina não vai mais ser estimulada a terminar esse vínculo e buscar seu próprio espaço político com outras mulheres... elas podem reformá-los, com o processo de responsabilização. Vamos agradecer outra vez a nossa querida revolução queer, que tanto nos libertou da tirania do feminismo "policial" que criticava as práticas prejudiciais às mulheres e recuperou o direito das instituições de erotizá-los com seus veículos hegemônicos, ops, direitos privados de consumir tais produtos sociais colonizatórios, racistas, classistas, branco e cooptadores de movimentos críticos.
Vamos recuperar a lição das separatistas: homens só vão mudar individualmente com a perda da relação, com a perda do acesso às mulheres. E coletivamente, com a separação das mulheres com relação à eles, construindo comunidades de mulheres. É nisso que eu ainda aposto, ainda que vocês me chamem essencialista por isso. depoimento de uma garota sobre como "processo de responsabilização" existe pra manter privilégio masculino de homens dentro de comunidades políticas... óbvio. Há quanto tempo as feministas não vem falando que não existe essa de "tratar" violência doméstica com terapia? Quem que ia acabar revivendo esse tipo de modelo violento pras mulheres, senão as tais "comunidades 'radicais' queer"...
Para o grau de difusão dessa literatura, principalmente pelas supostas alternativas radicais que são os movimentos de consumo alternativo de classe média que é o punk veganista queer anarco misógino, que ando vendo, precisava um post bem longo. E vai sair
Para quem quiser ver, eu vou upando algumas coisas que vejo na internet de sobreviventes nessas comunidades relatando suas experiências de segundo abuso com esses "processos de responsabilização" (vejam que esses anarko criticam sistema judicial falam que é segundo abuso com sobreviventes enfrentá-lo, porque são contra a polícia, coisa que certamente também sou, mas ninguém tá discutindo o abuso que é pra sobrevivente ser pedida para não "estereotipar" seu agressor, e as energias invertidas em responsabilizá-lo...) Vejam Accountability Process Disaster e o texto de Tamara Kooper, Espaços Ativistas não são Espaços Seguros para Mulheres.
Feministas amadas, a história do feminismo é que nós rompemos nos anos 70 com a esquerda. As feministas negras romperam com os Panteras Negras. As feministas sempre vão radicalizar e firmar seu movimento autônomo. Até as anarquistas da 1a onda fizeram isso, elas eram auto-organizadas. Chega de trabalhar pra esquerda. Chega do papel materno. Abaixo a heterossexualidade obrigatória. Vamos formar comunidade entre mulheres.
O problema da violência nas comunidades políticas tem haver com algo estrutural. A esquerda ou movimentos progressistas em geral (por isso entendo e inclui todas experiências políticas ou ativistas ou militantes mistas que sejam contra um regime político dominante) falham em algo inicial, que é que sempre vão tomar, por algum tema de privilégio masculino, o tema do sexismo como algo complementário, num ambito reformista, e quando tomam coomo algo estrutural é como um discurso, na prática eles nunca soltam as tetas das mães, nós mulheres, e as mulheres nunca deixam desse papel materno e de donas da casa e nunca deixam de trabalhar pra eles, por isso se atraem pela proposta de reformar os agressores, ao invés de fazer o luto de uma identidade e espaço político para inverter energia na construção das próprias comunidades feministas e de mulheres. O poder masculino só vai aprender perdendo acesso as mulheres, o Estado nunca vai conceder nossa libertação assim como os homens não vão dar nossa liberdade, só nossa autonomia pode nos dar. Já quanto a violência nas comunidades feministas e lésbicas, esse é um capítulo a parte... mas sempre me parece sintoma de auto agressão e coisas que invisibilizam são ao mesmo tempo nossa falta de éticas feministas, mas também nosso extremo essencialismo otimista as vezes.
O poder masculino só vai ser desconstruido por meio da perda do acesso as mulheres, onde se baseia seu privilegio, e não pela educação, porque não queremos mais ser educadoras nem nutridoras. Nao vai ser desconstruido por performance de gênero, que só oculta ainda mais os privilégios, senão é mais uma expressão do privilégio masculino, porque só os homens podem nesse sistema político, identificarem-se com a feminilidade, categoria criada pela supremacia masculina e categoria opressiva, como uma forma de "liberação" ou como empoderamento, é um privilégio masculino transitar e a nova versão liberal do feminismo é pensar que podemos também ter os privilegios deles, transitando adquirimos poder nenhum tampouco e nao passa duma ilusão de empoderamento e nojo do espelho, porque somos mulheres, um coletivo específico nao uniforme, mas sim coletivamente afetado por um traço compartido. nao reconhecermo-nos como mulheres nao ajuda em nada no 1o passo que é ganhar consciencia de classe para mover coletivamente por uma transformaçao estrutural, individualmente não reconhecer como mulheres pode nos deixar mais tranquilas, mas coletivamente parece a repetição da história de desidentificar-se da mãe subordinada, fonte de vergonha pra filha rebelde.
Vamos recuperar a lição das separatistas: homens só vão mudar individualmente com a perda da relação, com a perda do acesso às mulheres. E coletivamente, com a separação das mulheres com relação à eles, construindo comunidades de mulheres. É nisso que eu ainda aposto, ainda que vocês me chamem essencialista por isso. depoimento de uma garota sobre como "processo de responsabilização" existe pra manter privilégio masculino de homens dentro de comunidades políticas... óbvio. Há quanto tempo as feministas não vem falando que não existe essa de "tratar" violência doméstica com terapia? Quem que ia acabar revivendo esse tipo de modelo violento pras mulheres, senão as tais "comunidades 'radicais' queer"...
Para o grau de difusão dessa literatura, principalmente pelas supostas alternativas radicais que são os movimentos de consumo alternativo de classe média que é o punk veganista queer anarco misógino, que ando vendo, precisava um post bem longo. E vai sair
Para quem quiser ver, eu vou upando algumas coisas que vejo na internet de sobreviventes nessas comunidades relatando suas experiências de segundo abuso com esses "processos de responsabilização" (vejam que esses anarko criticam sistema judicial falam que é segundo abuso com sobreviventes enfrentá-lo, porque são contra a polícia, coisa que certamente também sou, mas ninguém tá discutindo o abuso que é pra sobrevivente ser pedida para não "estereotipar" seu agressor, e as energias invertidas em responsabilizá-lo...) Vejam Accountability Process Disaster e o texto de Tamara Kooper, Espaços Ativistas não são Espaços Seguros para Mulheres.
Feministas amadas, a história do feminismo é que nós rompemos nos anos 70 com a esquerda. As feministas negras romperam com os Panteras Negras. As feministas sempre vão radicalizar e firmar seu movimento autônomo. Até as anarquistas da 1a onda fizeram isso, elas eram auto-organizadas. Chega de trabalhar pra esquerda. Chega do papel materno. Abaixo a heterossexualidade obrigatória. Vamos formar comunidade entre mulheres.
O problema da violência nas comunidades políticas tem haver com algo estrutural. A esquerda ou movimentos progressistas em geral (por isso entendo e inclui todas experiências políticas ou ativistas ou militantes mistas que sejam contra um regime político dominante) falham em algo inicial, que é que sempre vão tomar, por algum tema de privilégio masculino, o tema do sexismo como algo complementário, num ambito reformista, e quando tomam coomo algo estrutural é como um discurso, na prática eles nunca soltam as tetas das mães, nós mulheres, e as mulheres nunca deixam desse papel materno e de donas da casa e nunca deixam de trabalhar pra eles, por isso se atraem pela proposta de reformar os agressores, ao invés de fazer o luto de uma identidade e espaço político para inverter energia na construção das próprias comunidades feministas e de mulheres. O poder masculino só vai aprender perdendo acesso as mulheres, o Estado nunca vai conceder nossa libertação assim como os homens não vão dar nossa liberdade, só nossa autonomia pode nos dar. Já quanto a violência nas comunidades feministas e lésbicas, esse é um capítulo a parte... mas sempre me parece sintoma de auto agressão e coisas que invisibilizam são ao mesmo tempo nossa falta de éticas feministas, mas também nosso extremo essencialismo otimista as vezes.
O poder masculino só vai ser desconstruido por meio da perda do acesso as mulheres, onde se baseia seu privilegio, e não pela educação, porque não queremos mais ser educadoras nem nutridoras. Nao vai ser desconstruido por performance de gênero, que só oculta ainda mais os privilégios, senão é mais uma expressão do privilégio masculino, porque só os homens podem nesse sistema político, identificarem-se com a feminilidade, categoria criada pela supremacia masculina e categoria opressiva, como uma forma de "liberação" ou como empoderamento, é um privilégio masculino transitar e a nova versão liberal do feminismo é pensar que podemos também ter os privilegios deles, transitando adquirimos poder nenhum tampouco e nao passa duma ilusão de empoderamento e nojo do espelho, porque somos mulheres, um coletivo específico nao uniforme, mas sim coletivamente afetado por um traço compartido. nao reconhecermo-nos como mulheres nao ajuda em nada no 1o passo que é ganhar consciencia de classe para mover coletivamente por uma transformaçao estrutural, individualmente não reconhecer como mulheres pode nos deixar mais tranquilas, mas coletivamente parece a repetição da história de desidentificar-se da mãe subordinada, fonte de vergonha pra filha rebelde.
escravidão moderna
“Eu libertei uma centena de escravos. Eu poderia ter libertado umas centenas mais se apenas el*s soubessem que eram escravos”. Harriet Tubman. via thefreeslave
(“I freed a thousand slaves. I could have freed a thousand more if only they knew they were slaves.” Harriet Tubman)
(“I freed a thousand slaves. I could have freed a thousand more if only they knew they were slaves.” Harriet Tubman)
quarta-feira, 13 de junho de 2012
Políticas Radicais da Masturbação - post 1
Se você pensa que o sexo que você faz com alguém além de você mesma é melhor ou mais interessante que o sexo que você pratica com você mesma, algo vai bem mal.
Só a masturbação cria sujeitas livres.
Só a masturbação nos libertará.
Você é a sua primeira amante, lembre-se disso.
Se você não for uma boa amante para você mesma, você só encontrará tiranas.
Ninguém tem mais poder e conhecimento da sua sexualidade que você mesma.
Nenhuma autoridade sobre seu sexo.
As amantes são apenas companhias que se escolhe para compartilhar nossa própria sexualidade, rica para nós mesmas. Também podem nos ajudar a enriquecer em auto-conhecimento, mas dificilmente mais que você mesma.
Nada pode. Nenhuma instituição médica, sexológica, psiquiátrica, educacional, nenhum discurso tem mais conhecimento da sua sexualidade que você mesma. Morte a todo autoritarismo sexual. Queime a pornografia, liberte o espaço da masturbação da colonização. Desconstrua os discursos. A masturbação não é copia de nenhuma sexualidade nem substituto. A masturbação é seu original, é a fundação da sexualidade de cada uma. A recuperação de autonomia, a cura do abuso, a descolonização cultural e a criação de um novo imaginário que nos libertará.
"A masturbação é a nossa vida sexual básica. É a base sexual. Tudo o que fazemos além da masturbação é simplemente a maneira que escolhemos para socializar nossa vida sexual" Betty Dodson, Liberating Masturbation. Retirado de Relatorio Hite, Shere Hite.
Só a masturbação cria sujeitas livres.
Só a masturbação nos libertará.
Você é a sua primeira amante, lembre-se disso.
Se você não for uma boa amante para você mesma, você só encontrará tiranas.
Ninguém tem mais poder e conhecimento da sua sexualidade que você mesma.
Nenhuma autoridade sobre seu sexo.
As amantes são apenas companhias que se escolhe para compartilhar nossa própria sexualidade, rica para nós mesmas. Também podem nos ajudar a enriquecer em auto-conhecimento, mas dificilmente mais que você mesma.
Nada pode. Nenhuma instituição médica, sexológica, psiquiátrica, educacional, nenhum discurso tem mais conhecimento da sua sexualidade que você mesma. Morte a todo autoritarismo sexual. Queime a pornografia, liberte o espaço da masturbação da colonização. Desconstrua os discursos. A masturbação não é copia de nenhuma sexualidade nem substituto. A masturbação é seu original, é a fundação da sexualidade de cada uma. A recuperação de autonomia, a cura do abuso, a descolonização cultural e a criação de um novo imaginário que nos libertará.
"A masturbação é a nossa vida sexual básica. É a base sexual. Tudo o que fazemos além da masturbação é simplemente a maneira que escolhemos para socializar nossa vida sexual" Betty Dodson, Liberating Masturbation. Retirado de Relatorio Hite, Shere Hite.
Criando e Sustentando Espaços para Bio Lésbicas Butch
por Pippa Fleming
Cada ser humano que chegou a este mundo o fez por meio da vagina de uma mulher. Sem um útero nenhum de nós estariamos aqui. É o útero que nos faz únicas e houve um tempo em que este fato era reverenciado, celebrado e não vilificado. Desde que as guerras contra as antigas tribos de mulheres foi travada há milhares de anos atrás. identidade feminina foi e vem sendo rendida invisível. No núcleo desta invisibilidade estão patriarcado, misoginia, racismo, homofobia, guerra e ódio.
Como uma mulher Afro-Nativa eu carrego o legado da escravidão e genocídio na fibra dos meus ossos e é o chamado da minha vida prestar homenagem para as lutas das minhas ancestrais e nunca esquecer nosso Maafa. É meu dever contar a verdade sobre estupros, envenenamento, emprisionamentos, mortes e abusos de mulheres. A vagina tem sido cobiçada e odiada durante eras .
Desde que a guerra contra as mulheres foi declarada, mulheres tiveram que lutar e sacrificar suas vidas para que outras pudessem; parir suas crianças em casa, andar pelas ruas em paz, ganhar mesmo salário, fazer amor com outra mulher, votar, ter propriedade e não ter que sentar no fundo do ônibus. É único para as mulheres sangrar pelas nossas vaginas e ter o poder de gerar vida se escolhemos. Esse poder divino é a razão pela qual você tem o Facebook como algo trivial ou transformacional.
Então porque quando Eu como uma lesbiana butch negra bio/cis quero criar um espaço separado para celebrar nossa identidade e reconhecer nossa herstória e lutas isso é visto como um ato de exclusão? Por que estou eu novamente sendo dita que mulheres Negras não podem se juntar e que há algo de errado com este desejo e necessidade? É um ato de revolução para lésbicas Negras dizer "nós queremos nosso espaço sem você"... seja lá quem você for. É algo também, e sempre esteve sendo desde que fomos trazidas aqui, ser visto como desacato as mulheres negras se reunirem. Era contra a lei em tempos de escravidão que pessoas Negras estarem sozinhas umas com as outras, a não ser que fosse como massa de manobra. Então isso quer dizer que eu sou uma merda duma escrava outra vez?
Então porque quando Eu como uma lesbiana butch negra bio/cis quero criar um espaço separado para celebrar nossa identidade e reconhecer nossa herstória e lutas isso é visto como um ato de exclusão? Por que estou eu novamente sendo dita que mulheres Negras não podem se juntar e que há algo de errado com este desejo e necessidade? É um ato de revolução para lésbicas Negras dizer "nós queremos nosso espaço sem você"... seja lá quem você for. É algo também, e sempre esteve sendo desde que fomos trazidas aqui, ser visto como desacato as mulheres negras se reunirem. Era contra a lei em tempos de escravidão que pessoas Negras estarem sozinhas umas com as outras, a não ser que fosse como massa de manobra. Então isso quer dizer que eu sou uma merda duma escrava outra vez?
A comunidade LGBTQ é perigosamente culpada de empurrar patriarcado e misoginia goela abaixo das lésbicas mulheres identificadas butch com pouco análise histórico, social e político e é hora de parar com essa merda. Eu nunca entraria num espaço especificamente criado para homens gays Negros e esperar que eles acomodassem minhas questões e demandas que eu fui prestada atenção porque eu sou oprimida. Porque embraçar nossos únicos corpos femininos e identidades causam tanto incêndio na comunidade LGBT e por que criar espaços separados para este discurso significa que estamos tentando minimizar ou diminuir diferentes membros da comunidade de identidade LGBTQ? Nós precisamos criar espaços para solidariedade LGBTQ assim como, espaços para a diferença. Diferenças não deveriam ser a fonte de disputas, mas uma abundância de beleza que celebra a todxs nós.
É hora de parar de mentir para nós mesmas, as crianças não estão bem/certas e há muito diálogo que necessita ocorrer sobre quem somos nós em essa comunidade LGBTQ assim como quais nossas necessidades. É hora de sair dessa cultura de medo que norte-americanos tão profundamente sofrem e por meio da qual funcionam. Um novo dia e tempo está sobre nós todxs e estamos sendo pedidxs para mover-nos e mudar ou sermos deixadxs atrás na areia universal.
É hora de parar de mentir para nós mesmas, as crianças não estão bem/certas e há muito diálogo que necessita ocorrer sobre quem somos nós em essa comunidade LGBTQ assim como quais nossas necessidades. É hora de sair dessa cultura de medo que norte-americanos tão profundamente sofrem e por meio da qual funcionam. Um novo dia e tempo está sobre nós todxs e estamos sendo pedidxs para mover-nos e mudar ou sermos deixadxs atrás na areia universal.
Marcadores:
espaços-somente-mulheres,
identidade lésbica,
LGBT,
políticas de identidade,
políticas queer,
políticas reprodutivas,
privilégio.,
separatismo,
sororidade
segunda-feira, 11 de junho de 2012
Gênero como discurso institucional braço do genocídio ecológico e biodiversidade
Quero desenvolver um pensamento elaborado sobre isso porque acho que há uma conexão quase umbilical entre os discursos pós-modernos e de gênero e a cegueira para a violência da globalização e colonização tecnológica que estão fodendo (literalmente, já que o Patriarcado se expressa pela violação simbolica, institucional e materialmente) nossas biodiversidades, países, gentes, bichinhos, plantas, florestas, recursos naturais de nossa necessidade, terra, e "países" (conceito nacionalista ruim, mas se entenderem como territorialidades está bom já). Acho que me faltam ligar as peças, e também talvez conseguir lograr uma visão mais "holística" (como fala Marti Kheel) e integrada de todos fatores.
Algumas autoras mais contemporâneas que teorizam o Ecofeminismo me parecem boas (o ecofeminismo mais político é o que mais me ressoa, mas também gosto do ecofeminismo da 1a onda, das deusas e mitos e da compreensão simbólica mulher=natureza, que chamam de essencialista e até diferencialista, gosto de cacilda rodrigañez bustos também, mas esses tem uma compreensão bem geopolítica que me abre a cabeça toda vez que leio) ops, continuando depois desse enorme parênteses, são Maria Mies, Vandana Shiva e Marti Kheel, a primeira alemã, envolvida com os incidentes de Tchernobil e a resistência do ativismo alemão contra as usinas nucleares e que fala do papel dos movimentos de mães (é tremenda essa feminista! consigam algo dela vale muito a pena, há um texto dela num livro chamado Feminismo Alemão ou algo assim), a segunda indiana e a terceira é pioneira do feminismo vegano, unindo os temas, primeira que deu uma virada na mesa dos ambientalistas e animalistas masculinistas e uniu ecofeminismo com a ética animal... escreveu também sobre medicina ocidental alopática e sobre éticas holísticas.
Eu não consigo ver como o discurso de gênero pós-moderno pode nos ajudar a resistir a invasão dos transgênicos, à biopirataria, que valore saberes originários e cura com plantas, que resista frontalmente aos ataques aos corpos das mulheres por meio da engenharia genética voltada para os hormônios, a hormonização das mulheres, as políticas de controle reprodutivo racistas e imperialistas aplicadas as mulheres negras e pobres de 3o mundo, os testes farmacêuticos realizados em pessoas terceiromundistas e negras e de cor e que seguem sendo testados, os governos que os respaldam, as políticas de saúde que respalda isso tudo, a invasão dos corpos das mulheres com essas merdas, a guerra verde e o capitalismo verde, o imperialismo verde de Monsanto e outras e o aprofundamento dos latifundios e da violência no campo. Por que?
Por que essa gente não pode se contradizer. Eles dizem que tudo é agência e escolha individual, e que criticar essas tecnologias é monitoramento e polícia feminista. Eles respaldam essas tecnologias, dizem que gênero é uma, e que não há algo como uma Natureza, que é um discurso, que não vivemos de modo natural (e por acaso eu pude escolher outro modo de viver senão invadida pelos produtos sintéticos? Onde nasci?) então como vamos falar em agressão ambiental, em uma lógica orgânica, inerente, natural, na vida? Se tudo é discurso? Anomalias genéticas, cânceres, também são uma interpretação? É um discurso sobre a Natureza dizer que as tecnologias impôem risco a saúde sexual e reprodutiva? As tecnologias reprodutivas empoderam as mulheres? Corpos são próteses, "todas fomos cirurgiadas"?
Algumas autoras mais contemporâneas que teorizam o Ecofeminismo me parecem boas (o ecofeminismo mais político é o que mais me ressoa, mas também gosto do ecofeminismo da 1a onda, das deusas e mitos e da compreensão simbólica mulher=natureza, que chamam de essencialista e até diferencialista, gosto de cacilda rodrigañez bustos também, mas esses tem uma compreensão bem geopolítica que me abre a cabeça toda vez que leio) ops, continuando depois desse enorme parênteses, são Maria Mies, Vandana Shiva e Marti Kheel, a primeira alemã, envolvida com os incidentes de Tchernobil e a resistência do ativismo alemão contra as usinas nucleares e que fala do papel dos movimentos de mães (é tremenda essa feminista! consigam algo dela vale muito a pena, há um texto dela num livro chamado Feminismo Alemão ou algo assim), a segunda indiana e a terceira é pioneira do feminismo vegano, unindo os temas, primeira que deu uma virada na mesa dos ambientalistas e animalistas masculinistas e uniu ecofeminismo com a ética animal... escreveu também sobre medicina ocidental alopática e sobre éticas holísticas.
Eu não consigo ver como o discurso de gênero pós-moderno pode nos ajudar a resistir a invasão dos transgênicos, à biopirataria, que valore saberes originários e cura com plantas, que resista frontalmente aos ataques aos corpos das mulheres por meio da engenharia genética voltada para os hormônios, a hormonização das mulheres, as políticas de controle reprodutivo racistas e imperialistas aplicadas as mulheres negras e pobres de 3o mundo, os testes farmacêuticos realizados em pessoas terceiromundistas e negras e de cor e que seguem sendo testados, os governos que os respaldam, as políticas de saúde que respalda isso tudo, a invasão dos corpos das mulheres com essas merdas, a guerra verde e o capitalismo verde, o imperialismo verde de Monsanto e outras e o aprofundamento dos latifundios e da violência no campo. Por que?
Por que essa gente não pode se contradizer. Eles dizem que tudo é agência e escolha individual, e que criticar essas tecnologias é monitoramento e polícia feminista. Eles respaldam essas tecnologias, dizem que gênero é uma, e que não há algo como uma Natureza, que é um discurso, que não vivemos de modo natural (e por acaso eu pude escolher outro modo de viver senão invadida pelos produtos sintéticos? Onde nasci?) então como vamos falar em agressão ambiental, em uma lógica orgânica, inerente, natural, na vida? Se tudo é discurso? Anomalias genéticas, cânceres, também são uma interpretação? É um discurso sobre a Natureza dizer que as tecnologias impôem risco a saúde sexual e reprodutiva? As tecnologias reprodutivas empoderam as mulheres? Corpos são próteses, "todas fomos cirurgiadas"?
Marcadores:
agência,
anti-racismo,
consentimento,
escolhas,
especismo,
meio ambiente,
natureza,
políticas reprodutivas,
pós-modernismo,
tecnolgias
Conceitos de agência, individualismo liberal, discursos pós-modernos e sua cumplicidade gritante com a colonização tecnológica de nossos corpos, meio ambiente e vidas. Respaldo Ideológico da Globalização Tecnológica Patriarcal.
Sinceramente pessoas, essa história pós-moderna de que "não existe uma natureza, isso não passa de um discurso" possui implicações éticas que tinhamos que estar atenta na hora de escolher nossas compreensões da realidade. Esta no caso, é produzida no contexto atual ao meu ver, e anda ao lado da nova noção de "agência" liberal. Esse discurso é muito favorecido num contexto de novas tecnologias que dominam nossas vidas, principalmente tecnologias reprodutivas, sexuais e seu papel clássico no controle das mulheres. Sem falar da tecnologia médica, farmacêutica, e seu império, especista, patriarcal, racista, e que se tratam de um campo de Poder, e não se enganem com as mentiras ou discursos produzidos pelos mesmos, de que existem para salvar nossas vidas ou melhorá-las, esse discurso é uma fachada, a tecnologia é uma maneira de construir hegemonia e poder pelos grupos de sempre que destroem o planeta. Aí vem a galera pós-moderna aí, "subversivamente" mutante, e fala que entender os usos de tecnologias farmaceuticas, médicas e ginecológicas, industriais, é uma polícia feminista? gente, não. Natureza existe. É algo bem real. Não é discursivo, é fenomenológico: você faz uma merda com seu corpo, ele reage. A reação é uma defesa e já é cura, por mais sofrida que possa parecer, até mesmo as formas de adoecer podem ser entendidas dessa maneira, por paradoxais que sejam no caso do adoecimento psíquico (ou os tais "transtornos mentais", de humor etc). A lógica é: quanto mais próximo do vital, melhor, seja com os alimentos ou nossas vidas. É uma leitura sobre meu corpo, a reação dele aos químicos e industriais, mas minha leitura não é só um relativismo fenomenológico. Eu leio dentro dum contexto patriarcal, mas é uma coisa bem real que esse meu "corpo", essa "natureza", reage contra uma coisa real que é um "dano", físico no caso. Com esse tipo de justificativa fornecida pelo mesmo sistema que nos vende suas merdas, justificamos também que tudo é relativo, e que eu como feminista é apenas uma escolha pessoal que eu não injeto hormônios que regularizem ou controlem ou impeçam minha menstruação, que não uso absorventes industriais, mas as demais mulheres, é escolha sua se elas quiserem implantar-se um lance de hormonio por meio de cirurgia, para pararem de menstruar, e depois morrerem ou melhor, serem mortas pela política de ódio patriarcal contra nossos corpos. Não dá, desculpa feministas de 3a onda, eu não acredito nisso e podem me chamar de impositora e totalitária, mas não dá mesmo. Eu prefiro ainda a Deusa que o Ciborgue, "Dona Haraway"... É um ataque total às mulheres.
(a desenvolver mais. Pontos: especismo do império farmacêutico. racismo do império farmacêutico e das políticas reprodutivas, misoginia das teorias pós-modernas e ódio aos corpos das mulheres como eles são, compreender o ciclo medicinal agressão aos corpos-venda dos medicamentos como ataque aos corpos das mulheres, e tentar entender por que as argumentações pós-modernas em torno ao uso das tecnologias como beatriz preciado, haraway e os feminismos influenciados pela teoria de discurso e análise de discurso são tão liberais e por que são tão respaldados e difundidos, que papel jogam eles na instalação desse regime democrático ocidental patriarcal e capitalista e por que ninguém vê que isso é óbvio. Emfim lembrem-me de alongar esse post).
(a desenvolver mais. Pontos: especismo do império farmacêutico. racismo do império farmacêutico e das políticas reprodutivas, misoginia das teorias pós-modernas e ódio aos corpos das mulheres como eles são, compreender o ciclo medicinal agressão aos corpos-venda dos medicamentos como ataque aos corpos das mulheres, e tentar entender por que as argumentações pós-modernas em torno ao uso das tecnologias como beatriz preciado, haraway e os feminismos influenciados pela teoria de discurso e análise de discurso são tão liberais e por que são tão respaldados e difundidos, que papel jogam eles na instalação desse regime democrático ocidental patriarcal e capitalista e por que ninguém vê que isso é óbvio. Emfim lembrem-me de alongar esse post).
Marcadores:
agência,
anti-racismo,
consentimento,
ecofeminismo,
escolhas,
especismo,
femicídio,
liberalismo,
meio ambiente,
natureza,
políticas reprodutivas,
pós-modernismo,
saúde,
sexualidade,
teoria feminista,
veganismo
"Dizer que gênero não existe é muito machista"
meu amigo gay, recém se introduz nas discussões feministas e recém se reinvidica pró-feminista, conseguiu resumir duma maneira impressionante tudo que as pessoas estão levando mil artículos para explicar. Disse ele:
"Essa coisa que dizer que não existe gênero é muito machista".
Gente fiquei impressionada com o nível de síntese. É nem a história de democracia racial, "Ah eu não sou racista porque sua cor não importa, na verdade eu não vejo diferença". O pessoal da "abolição do gênero" caem na mesma ingenuidade extremamente atravessada por privilégios, de dizer que "o gênero não importa, foda-se o gênero". Devíamos ter vergonha de reproduzir algo assim. Agora nós, as "essencialistas" aqui, feministas que vão dizer que quando falamos de gênero falamos que uma coisa é afetada pela construção social de uma realidade sexista, ou seja de classes homem e mulher, e homens definindo a realidade, e falamos que não se pode acabar com o sistema de gênero com simples auto-sugestão e performance, nós que somos as discriminatórias e sexistas... as "essencialistas". As que ainda acreditam nessa coisa de gênero. "sabe, somos todxs iguais".
"Essa coisa que dizer que não existe gênero é muito machista".
Gente fiquei impressionada com o nível de síntese. É nem a história de democracia racial, "Ah eu não sou racista porque sua cor não importa, na verdade eu não vejo diferença". O pessoal da "abolição do gênero" caem na mesma ingenuidade extremamente atravessada por privilégios, de dizer que "o gênero não importa, foda-se o gênero". Devíamos ter vergonha de reproduzir algo assim. Agora nós, as "essencialistas" aqui, feministas que vão dizer que quando falamos de gênero falamos que uma coisa é afetada pela construção social de uma realidade sexista, ou seja de classes homem e mulher, e homens definindo a realidade, e falamos que não se pode acabar com o sistema de gênero com simples auto-sugestão e performance, nós que somos as discriminatórias e sexistas... as "essencialistas". As que ainda acreditam nessa coisa de gênero. "sabe, somos todxs iguais".
na hora de escolher nossos feminismos...
Uma fórmula importante para feministas:
"Se os homens gostam de alguma tendência em particular do feminismo, isso significa que não está funcionando."
("If men like a particular brand of feminism, it means it is not working" Julie Bindel)
ficaadica.
"Se os homens gostam de alguma tendência em particular do feminismo, isso significa que não está funcionando."
("If men like a particular brand of feminism, it means it is not working" Julie Bindel)
ficaadica.
gênerxs
Tal vez o que explique que os feminismos e suas correntes atuais de "gênerx", de sexualidade como escolha privada, e o anarquismo, sejam tão liberais, é de que tenham saído duma tradição de pensamento iluminista e que se desenvolveram, e nós mesmas aqui e movimentos sociais, no contexto dos Estados Modernos, contratualistas, burgueses. Tudo é uma questão de arreglar o contrato entre burgues e proletário. Se o proletário tá feliz nesse contrato, não importa se é explorado. É assim que as pessoas pensam e assim que se mobilizam. Então nenhum movimento por mais radical que pose, por exemplo @s anarquist@s, que reproduzem os mais extremos da ideologia liberal, deixa de ser institucional ou reformista, no contexto das democracias ocidentais. São colonizadas por ela, e lutam por "melhoria", para melhorar o próprio capitalismo. E por isso que ter claro isso e escolher posições políticas que não apostam no liberalismo e no contratualismo e sim em mudanças substanciais e estruturais, é uma contradição e um gasto de energias tão grande. Sempre vamos ser um ataque ao direito burguês privado, sempre vamos ser restrição a liberdade de cada burgo de explorar seus próprios explorados, e dos proletários escolherem qual exploração é a melhor porque tentamos difundir que a luta organizada é melhor que ganhos pequenos privados.
não é nosso papel educar ninguém sobre nossa opressão
"As mulheres de hoje ainda estão sendo chamadas a atravessar a fenda da ignorância masculina e educar os homens sobre nossas existências e nossas necessidades. Essa é uma ferramenta velha e arcaica usada por todos os opressores para manter as oprimidas ocupadas com as preocupações do senhor. Agora temos ouvido que é tarefa das mulheres de Cor educar mulheres brancas – frente à tremenda resistência – sobre nossa existência, nossas diferenças, e nossos respectivos papéis em nossa sobrevivência conjunta. Isso é um desvio de energias e uma trágica repetição do pensamento racista patriarcal (...) como Adrienne Rich afirmou em uma palestra recentemente, as feministas brancas empenharam-se enormemente em educar-se sobre elas mesmas nos últimos dez anos, então como não se educaram também sobre mulheres Negras e as diferenças entre nós – brancas e Negras – quando isso é a chave para nossa sobrevivência enquanto movimento?." Audre Lorde, as ferramentas do mestre nunca vão desmantelar a casa grande
Por que o racismo é uma questão feminista?
"A razão pela qual racismo é uma questão feminista é facilmente explicada pela inerente definição de feminismo. Feminismo é a teoria política e prática que luta para libertar TODAS mulheres: mulheres d cor, trabalhadoras, pobres, descapacitadas, lésbicas, idosa - assim como brancas, economicamente privilegiadas, heterossexuais. Qualquer coisa menos que essa visão de liberdade total não é feminismo, mas apenas auto-agrandecimento feminino.
Deixe-me deixar claro que neste ponto, antes de ir mais além, algo que você têm que entender. Mulheres brancas não trabalham no racismo para fazer um favor a alguém, apenas para benefício das mulheres terceiromundistas. Você tem que compreender como racismo distorce e reduz nossas próprias vidas assim como mulheres brancas - que racismo afeta suas chances de sobrevivencia também, e que é realmente definitivamente uma questão sua também. Até que você entenda isso, nenhuma mudança fundamental vai acontecer.
Eu também sinto que o movimento de mulheres vai lidar com o racismo numa maneira que não havia sido lidado antes em qualquer outro movimento: fundamentalmente, organicamente, e não-retoricamente. Mulheres brancas têm uma relação materialmente diferente com o sistema do racismo que os homens brancos. Elas escapam menos deste e muitas vezes funcionam como seus peões, independente se reconhecem este fato ou não. Isso é algo que viver sob o reinado branco-masculino nos impôs; e derrubar o sistema do racismo é um trabalho inerente ao feminismo e, por extensão, dos estudos feministas"
Barbara Smith, “Racism and Women’s Studies”, All the Women are White, all the Blacks are Men, But Some of Us Are Brave.
Sempre que eu posto por aí escritos sobre feminismo pensar o racismo, e assumí-lo como questão central, as feministas brancas nunca dão muita bola. Eu gostaria de ver isso mudar, porque precisamos muito pensar sobre isso. O racismo como uma estrutura social política, é inerente ao Patriarcado, a Supremacia Masculina é inerentemente Branca, e nossos esforços são inúteis se não destruímos os dois simultaneamente. Devíamos começar a desconstruir essa história de que só nos interessamos no feminismo branco e que o feminismo negro é ininteligível pra gente e é um feminismo de certos sujeitos e unicamente destes. Obviamente que estou falando de nós, feministas brancas.
Deixe-me deixar claro que neste ponto, antes de ir mais além, algo que você têm que entender. Mulheres brancas não trabalham no racismo para fazer um favor a alguém, apenas para benefício das mulheres terceiromundistas. Você tem que compreender como racismo distorce e reduz nossas próprias vidas assim como mulheres brancas - que racismo afeta suas chances de sobrevivencia também, e que é realmente definitivamente uma questão sua também. Até que você entenda isso, nenhuma mudança fundamental vai acontecer.
Eu também sinto que o movimento de mulheres vai lidar com o racismo numa maneira que não havia sido lidado antes em qualquer outro movimento: fundamentalmente, organicamente, e não-retoricamente. Mulheres brancas têm uma relação materialmente diferente com o sistema do racismo que os homens brancos. Elas escapam menos deste e muitas vezes funcionam como seus peões, independente se reconhecem este fato ou não. Isso é algo que viver sob o reinado branco-masculino nos impôs; e derrubar o sistema do racismo é um trabalho inerente ao feminismo e, por extensão, dos estudos feministas"
Barbara Smith, “Racism and Women’s Studies”, All the Women are White, all the Blacks are Men, But Some of Us Are Brave.
Sempre que eu posto por aí escritos sobre feminismo pensar o racismo, e assumí-lo como questão central, as feministas brancas nunca dão muita bola. Eu gostaria de ver isso mudar, porque precisamos muito pensar sobre isso. O racismo como uma estrutura social política, é inerente ao Patriarcado, a Supremacia Masculina é inerentemente Branca, e nossos esforços são inúteis se não destruímos os dois simultaneamente. Devíamos começar a desconstruir essa história de que só nos interessamos no feminismo branco e que o feminismo negro é ininteligível pra gente e é um feminismo de certos sujeitos e unicamente destes. Obviamente que estou falando de nós, feministas brancas.
Prostituição
A Prostituição não pode ser pensada fora do marco patriarcal e do poder masculino. Não venham me trazer o zine da mina queer do 1o mundo 'puta' livremente escolhida, não importa se as grandes mídias hegemônicas ou supostamente alternativas, ou sujeitos individuais encontram casos individuais de sujeit@s que se sentem empoderad@s na sua atividade sexual ou fonte de "renda" somente possível em um marco machista, porque no seu caso pessoal não faz x ou y coisas no sexo com o cliente. porque tem uma margem de poder muito suspeita, etc etc... Nenhuma prostituição pode ser pensada fora do marco masculinista. Aí eu leio o fanzine queer da experiência da garota que escolheu ser prostituta (e não é um garoto, né!) e ela escolhe seus níveis de subordinação... por exemplo trabalhar sendo fotografada, de repente porque o dano não é tão físico e não estão te tocando diretamente, mas está inquestionado aí que as lentes ainda são masculinas. Que o lugar social dessas lentes é masculino. Que quem vai consumir seu corpo em imagens são homens. Que mesmo que alguém não pertencente a classe masculina consuma seu corpo em imagens, não significa que lésbicas ou mulheres estão coletivamente empoderadas nem sexualmente empoderadas, nem a nível individual nem coletivo, de poder consumir imagens de outra pessoa subordinada. E principalmente, que não estamos construindo nenhuma sexualidade de igualdade, que é uma transformação substancial na condição em que vivemos a sexualidade, e nossa vida coletiva como mulheres, para além do privilégio privado de exercer qualquer prática específica e ignorar sua estética racista, branca, supremacista masculina, emfim, colonizada. Elas vendem as calcinhas delas no Ebay, mas os que compram ainda são homens. Quem tá dando o dinheiro "livre" dela é um macho, e não o contrário. Prostituição não é empoderante. Nem no nível da auto-ilusão individual.
Na prostituição não se vende um produto de um trabalho, se vende a própria disposição do corpo, a apropriação não é do trabalho e sim do corpo, como no antigo sistema escravista, o escravo era posse do senhor. A prostituição é um modo específico de servidão que não é nem a assalariada, nem o trabalho informal explorado, nem o escravismo nem a vassalagem antiga. É um fenômeno ligado ao Patriarcado e a subordinação da mulher, não pode ser entendido fora da política sexual e das relações de gênero. Ela é sobre relações de gênero, não é sobre trabalho. Não confundam, prostituição não é como um trabalho, o trabalhador entrega para o Capitalista seu trabalho, que é totalmente desumano, ficando toda vida até a morte aumentando lucros de uma empresa trabalhando pra alguém ao invés de trabalhar para si. Esse é o sistema em que vivemos e nos quais vocês estão metidos, fazendo uma faculdade, no corre pra sobreviver e usando essa página, consumindo. A prostituição não é a entrega do trabalho, é uma relação monetária onde uma pessoa pode dispôr de meu corpo, em geral uma pessoa em posição socialmente masculinizada, e nenhuma prostituta sobe de cargo ao final da vida, vê melhorias, reconhecimento social, a não ser umas poucas estrelas de mídia de mercado alternativo de pessoas modernas com dinheiro pra consumir essa cultura alt. Que veem aí, de repente, algum ideal de liberdade liberal individualista que as construiu no seio da mesma sociedade de consumo onde estão metidas.
slutwalk?
A idéia da Slutwalk (Marcha das Vadias) é meio a tentativa de assimilar e transformar classe de mulheres burguesas numa identidade/mercado sexual, ou seja elevar a um tipo de mercado consumidor sexual potencial sem mudar sua condição significa de subordinação - prostitutas. Se as mulheres são sujeitos de sua sexualidade, elas só podem sê-lo na condição justamente daquelas que existem para servir e satisfazer a sexualidade masculina ou de um cliente. Além disso nunca supera a equação mulher=sexualidade. A forma de transgressão das mulhereres na ordem sexual masculina seria serem "prostitutas", não soa estranho? "Lésbicas" não seria uma transgressão maior e mais temida? A suposta agência em troca monetária é algum simbolo real de empoderamento ou auto determinação e capacidade de decisão sobre nossas vidas? Quem quer que sejamos "vagabundas"? Emfim muito hetero essa coisa. É tipo uma nova parada gay mesmo, outro showzinho dentro do sistema. Não menciono aqui nem que nenhuma dessas para numa esquina pra poder se reivindicarem "putas", nem vejo como qualquer ato solidário senão de invisibilização da realidade das mulheres. Vejo que a agenda da sexualidade individual comercial, discurso hegemônico difundido academicamente e institucionalmente, vem colonizando todos movimentos sociais, e o de mulheres não foge disso.
Há muitas coisas para serem pensadas sobre a Slut Walk e isso exige um escrito mais longo da minha parte que tengo pendente escrever. Há vários pontos a serem levantados. Uma coisa que quero trazer a reflexão em uma próxima postagem é sobre a idéia de "consentimento" sexual que rege o feminismo liberal hetero. O que acho estranho é o silenciamento geral em torno da Slut Walk, porque ninguém quer hiper criticar uma mobilização de mulheres, além do contexto delicado machista onde algumas críticas surgem. Se falo pessoalmente com feministas, quase nenhuma das que estimo têm acordo com a marcha, para além de outros problemas como politização por partidos e outros. Acho que é preciso um escrito sobre. Lembrem-me de escrever sobre isso.
Há muitas coisas para serem pensadas sobre a Slut Walk e isso exige um escrito mais longo da minha parte que tengo pendente escrever. Há vários pontos a serem levantados. Uma coisa que quero trazer a reflexão em uma próxima postagem é sobre a idéia de "consentimento" sexual que rege o feminismo liberal hetero. O que acho estranho é o silenciamento geral em torno da Slut Walk, porque ninguém quer hiper criticar uma mobilização de mulheres, além do contexto delicado machista onde algumas críticas surgem. Se falo pessoalmente com feministas, quase nenhuma das que estimo têm acordo com a marcha, para além de outros problemas como politização por partidos e outros. Acho que é preciso um escrito sobre. Lembrem-me de escrever sobre isso.
sobre encontro feminista autônomo latino america e caribenho ou encontro feminista autônomo de Porto - Alegre
Não sei se posso escrever algo sobre esse encontro. Igualmente já devia haver sido escrito se sim, para aproveitar o calor do momento. Mas não sei quanto acúmulo e segurança tenho pra escrever alguma coisa, no sentido da minha compreensão de conjuntura. Pessoalmente a experiência a vivi de muitas maneiras, para mim é muito afetiva a busca que tenho nos encontros. Eu necessito estar entre feministas e conehcer seus mundos, suas visões, e necessito aprender a abrir-me para as tantas construções feministas... dos encontros eu espero somente o que cada feminista pode em enriquecer. Mas o problema para mim do encontro foi o término sem um "cierre", sem propostas práticas do tipo: quando o próximo, onde e quem.
O que saiu foi uma nota de Ochy Curiel, muito interessante em alguns pontos. Embora a crítica que eu faça seja da gente (nosotras) sempre sairmos escrevendo notas e análises muito intelectuais e analíticos, e não nos propormos a responsabilização pessoal e coletiva sobre o que passam com os encontros. É só Neoliberalismo, Capitalismo, Heteropatriarcado, ou tem algo das nossas maneiras de fazer política? Isso é uma discussão mais profunda que não sei se o campo da escrita permite, além da escrita também estar no campo da política ou da exterioridade. Segue uma parte da nota. O texto total se encontra no site do efalac.
"Estas experiencias destes dois encontros, nos mostram de alguma maneira como está a política feminista autônoma supostamente contrahegemônica e crítica; evidencia quão longe estamos de um projeto político descolonizador e atento ao sofrimiento dos grupos mais vulnerabilizados das mulheres e povos do continente; evidencia uma volta a um feminismo com rasgos diferencialistas, combinado com pós-feminismo que só questiona as estruturas do sistema sexo/gênero e que embora retoma questões importantes como “o pessoal é político”, “el affidamiento”, a construção de confianças entre nós, que aposta a deconstruir o binário, se torna sem conteúdo porque não passa por una compreesão das realidades onde estamos atuando e vivendo, que são racializadas, (hetero) sexualizadas, chupadas pelas multinacionales, metidas de cabeça no consumismo, noindividualismo e na apatia de construir e fortalecer movimentos sociais mais críticos e com propostas transformadoras."
O que saiu foi uma nota de Ochy Curiel, muito interessante em alguns pontos. Embora a crítica que eu faça seja da gente (nosotras) sempre sairmos escrevendo notas e análises muito intelectuais e analíticos, e não nos propormos a responsabilização pessoal e coletiva sobre o que passam com os encontros. É só Neoliberalismo, Capitalismo, Heteropatriarcado, ou tem algo das nossas maneiras de fazer política? Isso é uma discussão mais profunda que não sei se o campo da escrita permite, além da escrita também estar no campo da política ou da exterioridade. Segue uma parte da nota. O texto total se encontra no site do efalac.
"Estas experiencias destes dois encontros, nos mostram de alguma maneira como está a política feminista autônoma supostamente contrahegemônica e crítica; evidencia quão longe estamos de um projeto político descolonizador e atento ao sofrimiento dos grupos mais vulnerabilizados das mulheres e povos do continente; evidencia uma volta a um feminismo com rasgos diferencialistas, combinado com pós-feminismo que só questiona as estruturas do sistema sexo/gênero e que embora retoma questões importantes como “o pessoal é político”, “el affidamiento”, a construção de confianças entre nós, que aposta a deconstruir o binário, se torna sem conteúdo porque não passa por una compreesão das realidades onde estamos atuando e vivendo, que são racializadas, (hetero) sexualizadas, chupadas pelas multinacionales, metidas de cabeça no consumismo, noindividualismo e na apatia de construir e fortalecer movimentos sociais mais críticos e com propostas transformadoras."
cis
"Entre nós, não há ruptura entre virginal e não-virginal. Nenhum evento que nos faz em mulher... Seu/meu corpo não adquire seu sexo pela operação. Por meio da ação de algum poder, função, ou órgão. Sem qualquer intervenção ou manipulação especial, você já é uma mulher".
- Luce Irigaray, When Our Lips Speak Together
- Luce Irigaray, When Our Lips Speak Together
:
Introdução de Unpacking Queer Politics (Tradução) - Sheila Jeffreys
Introdução
Nos 1990s, um fenômeno conhecido como “packing” se desenvolveu no interior dos setores da comunidade lésbica (Volcano e Halberstam 1999). Isso implicava a utilização de um dildo abaixo da perna da calça para sugerir a existência de um pênis. Essa prática assinalava que, para as lésbicas que a adotavam, a veneração da masculinidade havia triunfado sobre o projeto lésbico-feminista de acabar com a hierarquia de gênero. Ao mesmo tempo, um culto ao transsexualismo se desenvolveu entre grupos similares de lésbicas. Algumas das lésbicas que haviam demonstrado seu comprometimento em alcançar o poder e privilégio masculinos por assumirem uma identidade “butch”, por se engajarem no packing e por manterem competições “drag king” para ver quem poderia mais convincentemente se parecer como um homem, e particularmente um homem gay, moveram-se em direção à cirurgia mutiladora e ao consumo de hormônios que prometiam a “autenticidade” de sua busca (Devor 1999). A mudança do auge do feminismo lésbico o qual compreendíamos, como Adrienne Rich disse, como “O significado de nosso amor por mulheres é o que temos de expandir constantemente” (Rich 1979: 230) a uma situação aonde, em algumas partes influentes e muito publicizadas da comunidade lésbica, masculinidade era o santo graal, não poderia ser mais profunda.
Por que isso aconteceu? Eu devo argumentar aqui que a razão mais significativa foi a influência de uma poderosa cultura gay masculina que, do final dos 1970s em diante, rejeitava o projeto da liberação gay de desmantelar a hierarquia de gênero e escolhia a “masculinidade” como seu objetivo. Através do sadomasoquismo, pornografia gay masculina, práticas sexuais de sexo público e prostituição que celebravam o privilégio masculino, áreas dominantes da cultura gay masculina criaram uma hipermasculinidade e disseram que isso era homossexualidade, e isso era bom. Na última década, vários livros estadunidenses escritos por homens gays lançaram críticas abrangentes da agenda de libertação sexual dos homens gays. Essas críticas são inspiradas primariamente por esssa contínua alta taxa de infecção por HIV nos EUA, mas também por uma percepção de que a cultura do sexo comercial gay empobrecia as vidas e os relacionamentos (Rotello 1997; Signorile 1998a). Alguns teóricos gays empregaram compreensões feministas para lançar violentas críticas no culto gay da masculinidade (Stoltenberg 1991; Levine 1998; Kendall 1997; Jensen 1998). Esse trabalho feito por homens gays é o ponto de partida mais útil pelo qual iniciar em um exame lésbico-feminista da cultura gay e queer atualmente. É o reconhecimento do impacto prejudicial da adoração gay da masculinidade nas vidas de lésbicas que me incita a examinar a cultura e a política gay masculina nesse livro.
Às práticas prejudiciais que se desenvolveram nesse período foram dadas todas justificativas teóricas no interior da política e teoria queer. Argumento que quando a política queer nos 1990s atacou os princípios da liberação gay e do feminismo lésbico, que requeriu a transformação da vida pessoal, houve um backlash contra a possibilidade da mudança social radical. A nova política era baseada, muito explicitamente, em um repúdio das ideias lésbicas feministas. A política queer consagrou um culto da masculinidade. Argumento aqui que a agenda política da política queer está danificando os interesses de lésbicas, mulheres no geral, e círculos marginalizados e vulneráveis de homens gays. A noção de que a política queer pode representar os interesses das lésbicas assim como dos homens gays emerge da ideia errônea de que lésbicas e homens gays podem formar um círculo unificado com interesses comuns. O feminismo lésbico foi criado da compreensão feminista de que lésbicas são mulheres, e que os interesses das mulheres em organizações políticas mistas são regularmente excluídos ou inclusive diretamente contrariados. Essa compreensão foi sendo perdida na política queer, e esse livro é escrito para trazer os interesses das mulheres e lésbicas mais uma vez para o primeiro plano da discussão política lésbica e gay.
A acolhida efusão de livros sobre teoria política e legal lésbica e gay dos 1990s parece iniciar da premissa de que lésbicas e homens gays formam uma categoria social unificada que possui uma agenda homogênea para servir interesses unificados (Evans 1993; Wilson 1995; Vaid 1995; Stychin 1995; Bell e Binnie 2000). Muito dessa nova escrita busca integrar lésbicas e gays na teorização da cidadania com a criação de novas categorias de cidadania sexual ou queer. Diane Richardson é uma das poucas vozes pontuando que lésbicas não podem ser simplesmente subordinadas no interior de tal categoria (Richardson 2000a, b). A ausência geral de tal ponto de vista feminista com relação à “cidadania sexual” é um enigma. Livros por teóricas feministas sobre a cidadania das mulheres analisam os interesses contraditórios de mulheres e homens. Elas pontuam que a ideias e a prática da cidadania dos homens foi criada precisamente da subordinação das mulheres (Pateman 1988; Vogel 1994). Mas essa compreensão feminista parece desaparecer na teorização da cidadania “sexual”. De fato, lésbicas e homens gays estão longe de uma categoria unificada com interesses unificados. Lésbicas são mulheres, e teorias lésbicas da cidadania devem continuar a examinar as contradições entre os interesses de mulheres e homens, particularmente com relação às contradições entre os interesses de homens gays e toda a comunidade de mulheres.
Sem Necessária Comunidade de Interesse
Lésbicas feministas, que optaram por se organizarem e viverem suas vidas separadamente dos homens gays, estiveram durante muito tempo sutilmente cientes de que não havia necessária comunidade de interesse entre lésbicas e homens gays. A poeta e escritora Adrienne Rich escreveu no final dos 1970s, quando o feminismo lésbico estava em seu pico, que os interesses de lésbicas eram ameaçados por ambas as culturas heterossexual e de homens gays.
Lésbicas foram forçadas a viverem entre as duas culturas, ambas dominadas pelo masculino, cada uma da qual negou e pôs em perigo nossa existência. Por um lado, existe a cultura patriarcal, heterossexista... Por outro lado, existe a cultura patriarcal homossexual, a cultura criada por homens homossexuais, refletindo tais estereótipos masculinos como dominância e submissão como modelos de relacionamento, e a separação do sexo do envolvimento emocional – uma cultura marcada pelo profundo ódio às mulheres. A cultura masculina “gay” ofereceu às lésbicas a imitação de estereótipos de papel de “butch” e “femme”, “ativa” e “passiva”, cruising e sadomasoquismo, e o violento, auto-destrutivo mundo dos bares “gays”. Nem a cultura heterossexual nem a cultura “gay” ofereceu às lésbicas um espaço no qual descobrir o que significava ser auto-definida, auto-afetuosa, identificada-mulher, nem uma imitação dos homens nem seu oposto objetificado. (Rich 1979: 225)
O feminismo lésbico ofereceu às lésbicas o espaço necessário no qual criar valores feministas lésbicos e expressar seu amor por mulheres. A filósofa lésbica-feminista Marilyn Frye escreveu incisivamente sobre os valores compartilhados que existem entre homens gays e heterossexuais e a necessidade de lésbicas em se separar para criar suas próprias comunidades e política (Frye 1983). A crise da AIDS e o nascimento da política queer levaram muitas lésbicas a se voltarem ao trabalho com homens gays enquanto sepultavam suas aflições sobre os valores da cultura gay masculina dominante. Isso é, apesar do fato de que alguns influentes escritores e ativistas gays não foram tímidos sobre expandir seus hostis sentimentos sobre mulheres e lésbicas. Um bom exemplo disso é a alegria com que alguns homens gays estiveram preparados para falar sobre o “fator eca”.
A existência do que tem sido chamado de “efeito eca” pode muito bem ser considerado a ficar no caminho de qualquer fácil suposição de existir uma categoria lésbica ou gay unificada no interior de uma cidadania pluralista. Esse termo é empregado em escritos gays masculinos para descrever a extrema repulsa experienciada por alguns homens gays no pensar ou ver corpos nus de mulheres. Ele tem sido bastante conhecido uma vez que workshops sobre o tópico têm sido realizados anualmente nas conferências da US National Lesbian and Gay Task Force. Eric Rofes, um membro de liderança doSex Panic, tem se envolvido em organizar os workshops nos quais lésbicas e homens gays são admitidos a assistir para ouvir o que um acha do outro. Ele explica que é muito identificado com o lésbico – e o feminista –, e que é muito transtornado pelo “efeito eca” que ele experiencia. Ele escreve sobre passar por lésbicas tomando sol numa praia gay que estavam fazendo topless. Ele experimentou grande desconforto: “Quando finalmente atravessamos a seção de mulheres e os torsos de homens apareceram, minha respiração se acalma, minha pele para de suar, e meu coração para de acelerar” (Rofes 1998b: 45). Ele explica sua reação assim:
Eu sou um homem gay com amizades de longo prazo com lésbicas e um forte comprometimento em apoiar a cultura lésbica. Porém, eu sou um dos muitos gays que compartilham o que eu chamo de “o efeito eca” – uma resposta visceral variando da aversão à repugnância quando confrontado com sexo e corpos lésbicos. Ao longo de quase 25 anos de envolvimento nas culturas gays masculinas, eu testemunhei vários homens expressando sua repulsa ao sexo lésbico e aos corpos de mulheres. Eu ouvi inúmeras piadas “de atum”, vi rostos de homens azedarem quando sexo lésbico aparece em filmes, e assiti homens gays amontoados em pequenos grupos expressando desgosto sobre mulheres fazendo topless em manifestações políticas. (p. 46)
Piadas “de atum” surgem do hábito entre homens gays de chamarem mulheres de “peixe” após o que eles consideram ser o cheiro repulsivo de seus genitais. Alguns homens gays não suportam estar perto de lésbicas por causa da maneira como cheiram. Rofes cita um homem dizendo que ele não podia se tornar fisicamente próximo de lésbicas “por causa de seus odores que ele acreditava seus corpos emitiam” (p. 47).
Embora ele não tenha evidência da qual calcular isso, Rofes considera que um terço dos homens gays são assim repelidos. Por um tempo pelo menos, o termo “fator eca” era corrente. Por exemplo, um artigo por um escritor gay estadunidense publicado na revista gay masculina australiana Outrage em 1997 chamado “Entendendo como lidar com o fator eca” descreve homens gays indo para uma festa mista de forma a tentarem superar o se sentir “enojado” sobre genitais femininos. O autor comenta que “o fator eca na cultura gay masculina” “não é incomum entre homens gays” (Strubbe 1997: 44).
O racismo no Reino Unido nos 1960s foi frequentemente focado no suposto cheiro diferente de cidadãos asiático-britânicos. Os sentimentos desses homens gays que acham os corpos de mulheres tão difíceis de lidar lembra-me daquele tipo visceral de racismo. Homens e mulheres, qualquer que seja sua orientação sexual, são criados numa sociedade supremacista masculina que ensina que os corpos de mulheres são nojentos, ao passo que pênis conferem honra e orgulho. A saúde mental de lésbicas que estão procurando se recuperar desse ódio por mulheres de modo que assim possam amar e respeitar os corpos de mulheres pode não ser bem fornecido por qualquer nível de comunidade com homens que nutrem tal profunda misoginia. Rofes se sente culpado, e deseja superar seus sentimentos extraordinariamente negativos sobre mulheres, mas o que é surpreendente é que ele se sente capaz de falar sobre elas tão prontamente, enquanto que sentimentos similares com base em raça provavelmente não seriam considerados tão aceitáveis em relacionar. Em face de tais sentimentos, parece ser despropositado esperar qualquer comunidade direta de interesses entre lésbicas e homens gays.
A fim de que essa imagem da misoginia de homens gays não pareça tão desoladora, é importante pontuar que houve um homem gay na mesma antologia, Opposite Sex, que conteu o artigo sobre o fator “eca” no qual utilizou uma perspectiva lésbico-feminista e mostrou simpatia genuína pela experiência de mulheres. Robert Jensen explica quão solitário é tomar tal posição numa cultura gay sexual-libertária na qual o questionamento político da prática sexual é simplesmente barrado de todos os lados: “Para mim, ser gay significa não só reconhecer o desejo sexual por homens mas também resistir às normas e práticas do patriarcado... Tal comprometimento é difícil de fazer valer num mundo de privilégio masculino, e eu encontrei poucos modelos de como viver eticamente como um homem – hetero ou gay – em um patriarcado” (Jensen 1998: 152).
Jensen utiliza o trabalho de teóricas lésbicas feministas radicais tais como Marilyn Frye para apoiar sua recusa a fazer uma divisão público/privado. Ele não permite uma imunidade para a prática sexual gay masculina da crítica política: “são essas mesmas práticas que mimetizam a heterossexualidade em sua aceitação dos valores sexuais patriarcais: a desconexão do sexo do afeto e interação emocional com um outro, a equação heterossexual do sexo com penetração e dominação e submissão, e a mercantilização do sexo na pornografia” (Jensen 1998: 156). Em oposição direta ao liberalismo da política gay pública, ele considera que “Existem implicações políticas e éticas em todos os aspectos da vida cotidiana... Não existe escapatória do julgamento, nem devemos buscar tal escapatória” (p. 154).
Masculinidade Gay
Uma vez que sugiro neste livro que é a promoção e a celebração da masculinidade gay que cria a diferença de interesse mais fundamental entre a corrente masculina de agenda gay e os interesses de lésbicas e outras mulheres, é importante explicar o que quero dizer por masculinidade. Minha compreensão da masculinidade é que se refere ao comportamento que é construído pela dominação masculina e serve para mantê-la. A masculinidade não é só aquilo que pertence aos homens, uma vez que os homens podem ser vistos, e considerar a si mesmos, como sendo insuficientemente masculinos. Na verdade, isso é precisamente o que os homens gays antes dos 1970s frequentemente se consideravam, e eram considerados por outros. A masculinidade não é, então, um fato biológico, algo relacionado com hormônios específicos ou genes. O comportamento masculino ou a aparência ou os artefatos e o design significam a “masculinidade” como uma categoria política e não biológica. Nessa compreensão, a masculinidade não pode existir sem seu suposto oposto, a feminilidade, que diz respeito à subordinação feminina. Nem a masculinidade nem a feminilidade fazem sentido ou podem existir sem os outros como um ponto de referência (Connell 1995).
Embora escritores sobre a masculinidade como Robert Connell tendam, atualmente, a usar o termo “masculinidade” com um “s” – ou seja, masculinidades -, eu intencionalmente assim não o faço. Eu reconheço que a forma tomada pelo comportamento masculino dominante, a masculinidade, pode variar consideravelmente, e é influenciado pela classe, raça e muitos outros fatores. O uso do plural, no entanto, sugere que nem todas as variedades da masculinidade são problemáticas, e que algumas podem ser salvas. Vez que defino a masculinidade como o comportamento da dominação masculina, estou interessada em eliminá-la ao invés de salvar qualquer de sua variedade e, portanto, não usar o termo “masculinidades”. À medida que os homens gays como grupo buscam proteger politicamente sua prática da masculinidade, eles podem ser vistos como agindo da direção contrária aos interesses de mulheres, e de lésbicas como uma categoria de mulheres. Eles não podem, afinal de contas, ter sua masculinidade (em qualquer forma) para fazer com que se sintam melhores, sem a existência de uma classe substancial de pessoas subordinadas representando a feminilidade, e essa é atualmente mulher.
Os escritos críticos de Martin Levine sobre a masculinidade gay foram publicados postumamente por seu editor literário, Michal Kimmel (Levine 1998). Eles fornecem uma profunda análise do problema. Ele explica que, em uma liberação pós-gay, homens gays apropriaram a masculinidade como uma compensação pelos estereótipos femininos que foram forçados neles em períodos anteriores.
Eu argumento que homens gays ordenaram a sexualidade hipermasculina como uma forma de desafiar sua estigmatização como homens que falharam, como “maricas”, e que muitas das instituições que se desenvolveram no mundo gay masculino dos 1970s e início dos 1980s apoiavam e atendiam a esse código sexual hipermasculino – desde as lojas de roupa e butiques sexuais, a bares, balneários e ginásticas onipresentes. (Levine 1998: 5)
Uma masculinidade exagerada se tornou o estilo dominante na cultura gay e, como Levine pontua, através da influência de designers gays e da discoteca gay, ajudaram a criar a moda para tal masculinidade exagerada na cultura heterossexual fashion também. Em Unpacking Queer Politics, analisarei as práticas da masculinidade que moldam as áreas da cultura sexual gay masculina e a agenda política queer uma vez que se relaciona com a prática sexual. Vou olhar para o efeito que possui sobre lésbicas, homens gays em uma cultura gay mista que celebra e erotiza a masculinidade como o bem mais elevado.
Examinarei as demandas políticas de alguns ativistas gays, em grupos como Outrage no Reino Unido e Sex Panic nos EUA, para libertação sexual nas áreas de sexo público, pornografia e sadomasoquismo, e argumentar que eles são baseados em uma agenda tradicionalmente patriarcal. Tais ativistas tendem a dizer que são desafiadores na distinção público/privado na qual a atividade sexual é usualmente confinada à espera privada. No entanto, as campanhas para ampliar o sexo “privado” no domínio público são baseadas na noção de que sexo deve continuar a ser reconhecido como “privado” – ou seja, protegido da crítica política e digno de respeito como um exercício da liberdade individual mesmo se executado em um parque público. A agenda lésbico-feminista é similar à manifestação de mulheres em desafiarem a distinção público/privado na qual compreensões comuns da política são baseadas. Lésbicas feministas querem uma democracia política dentro e fora de casa, sem distinção que proteja uma escravidão privada de exploração sexual e violação.
O projeto lésbico-feminista em criar a igualdade no mundo privado do sexo e relacionamentos, baseado na compreensão de que o pessoal é político, pode ser a base de criar um mundo público que é saudável para mulheres viverem. Lésbicas feministas que vivem agora de acordo com esses princípios, aquelas que são ridicularizadas na mídia e em fóruns queer como politicamente corretas, fascistas “sexo-fóbicas”, devem talvez ser entendidas como a vanguarda da mudança social radical.
sobre liberalismo, agência e escolhas das mulheres
"Era uma vez, no início desta onda do feminismo, existia um consenso de que as escolhas das mulheres eram construídas, sobrecarregadas, emolduradas, debilitadas, constrangidas, limitadas, coagidas, formatadas, etc. pelo patriarcado. Ninguém propôs que isso significasse que as escolhas das mulheres são determinadas, ou que as mulheres eram passivas ou vítimas desamparadas do patriarcado. Isso era porque muitas mulheres acreditavam no poder do feminismo para mudar as vidas das mulheres e, obviamente, as mulheres não poderiam mudar se elas fossem socialmente determinadas nos papéis ou fossem massas maleáveis nas mãos dos patriarcas. Nós até falamos sobre maternidade compulsória e, sim, heterossexualidade compulsória! Nós falamos sobre as maneiras nas quais mulheres e jovens garotas eram calejadas na prostituição, acomodando a si mesmas no espancamento masculino, e eram canalizadas em empregos mal pagos e sem saída. E a mais moderada entre nós falou sobre a socialização do papel sexual. As mais radicais escreveram manifestos detalhando a construção patriarcal da opressão das mulheres. Mas a maioria de nós concordava que, chameo-o como quiser, as mulheres não estavam simplesmente “livres para ser eu e você”.
O tempo passou, e veio acoplada essa visão mais “matizada” do feminismo. Ela nos disse para prestarmos atenção à nossa linguagem de mulheres como vítimas. Mais mulheres foram para escolas profissionais e de graduação, tornarnaram-se “mais inteligentes”, foram recebidas no tribunal, foram para a academia, e se tornaram especialistas em indispostos tipos de campos. Elas compartilharam do poder que os deuses masculinos tinham criado e “viram que isso era bom”. Elas começaram a dizer coisas como “… Um grande cuidado necessita ser tomado para não retratar mulheres como incapazes de decisões responsáveis” (Andrews, 1987: 46).
Algumas mulheres acreditaram serem estas palavras familiares, que elas haviam as ouvido antes, mas as analistas do discurso feminista não pareciam particularmente interessadas em registrar o retorno ao que as feministas “antiquadas” classificaram como o discurso liberal patriarcal. Elas disseram que isso era chato e fora de moda e, além do mais, as mulheres já ouviram o suficiente disso, e era depressivo. Não vamos ser simplistas e culpar os homens, elas disseram, uma vez que essa análise “oferece tão poucos pontos de alavancagem para a ação, tão poucos pontos de entrada imaginativos por visões de mudança” (Snitow e outro/as, 1983: 30)."
(...)
Janice Raymond, Liberalismo Sexual e Reprodutivo
O tempo passou, e veio acoplada essa visão mais “matizada” do feminismo. Ela nos disse para prestarmos atenção à nossa linguagem de mulheres como vítimas. Mais mulheres foram para escolas profissionais e de graduação, tornarnaram-se “mais inteligentes”, foram recebidas no tribunal, foram para a academia, e se tornaram especialistas em indispostos tipos de campos. Elas compartilharam do poder que os deuses masculinos tinham criado e “viram que isso era bom”. Elas começaram a dizer coisas como “… Um grande cuidado necessita ser tomado para não retratar mulheres como incapazes de decisões responsáveis” (Andrews, 1987: 46).
Algumas mulheres acreditaram serem estas palavras familiares, que elas haviam as ouvido antes, mas as analistas do discurso feminista não pareciam particularmente interessadas em registrar o retorno ao que as feministas “antiquadas” classificaram como o discurso liberal patriarcal. Elas disseram que isso era chato e fora de moda e, além do mais, as mulheres já ouviram o suficiente disso, e era depressivo. Não vamos ser simplistas e culpar os homens, elas disseram, uma vez que essa análise “oferece tão poucos pontos de alavancagem para a ação, tão poucos pontos de entrada imaginativos por visões de mudança” (Snitow e outro/as, 1983: 30)."
(...)
"Com a “vinda da idade” desta onda particular do feminismo, nós temos visto um deslocamento do radicalismo feminista ao liberalismo feminista. Esse liberalismo feminista é tanto causa quanto efeito da chamada pró-pornografia feminista e dos movimentos libertários sexuais feministas. O liberalismo sexual que tem vindo a ser definido como “feminismo”, nós estamos agora testemunhando novamente na esfera reprodutiva. Existem várias comparações que podem ser feitas entre liberais sexuais e reprodutivos, especialmente em suas reinvindicações da pornografia e das novas tecnologias reprodutivas. Eu quero iluminar uma dessas comparações aqui, especificamente como ambos os grupos utilizam a retórica do “direito à escolha” da mulher. Ambos liberais sexuais e reprodutivos têm investido em um antigo discurso liberal sobre a escolha com um conteúdo novo e supostamente feminista. Os liberais sexuais estão inconfortáveis em focar as mulheres como objetos e vítimas da supremacia masculina. Eles invocam uma linguagem de ir “além” das maneiras nas quais os homens objetificam, exploram e vitimizam mulheres (não a qualquer realidade de como mulheres sobrevivem por causa de suas ligações com outras mulheres, no entanto). Eles teriam-nos a tomar um “grande passo a frente” nas formas pelas quais as mulheres são agentes de, por exemplo, seus status na pornografia ou seus papéis enquanto representantes de reprodução. Raciocinando que porque as mulheres escolhem a pornografia ou a maternidade por substituição, eles argumentam que as mulheres precisam dessas “escolhas” para serem livres."
Janice Raymond, Liberalismo Sexual e Reprodutivo
Para ler o texto todo traduzido, clique em http://delivreacesso.wordpress.com/2012/02/06/liberalismo-sexual-e-reprodutivo/
Acho um bom texto para pensar a história de "agência" que agora, pelo que parece, está de moda nos escritos acadêmicos, e principalmente no feminismo de 3a onda e em nossas práticas.
Acho um bom texto para pensar a história de "agência" que agora, pelo que parece, está de moda nos escritos acadêmicos, e principalmente no feminismo de 3a onda e em nossas práticas.
Chego a pensar que o único feminismo que pode existir no capitalismo é aquele mais próximo da utopia "democrática" capitalista-liberal, onde tudo que fazemos é escolha e responsabilidade individual, liberdades aqui lidas como "consumo" pessoal. Neste sentido, propostas supostamente alternativas ou que até mesmo se reivindicam "radicais" como o queer, são facilmente assimiladas.
O problema é que, esse poder de definição da realidade descansa num privilégio de classe... quem define a realidade feminista de agora assim são feministas brancas e de classe média. Quem não tem privilégio de classe e cor não se privilegia tanto dessa história de agência. Privilegia quem está inserido neste capitalismo contemporâneo "democrático", e que pode consumir sua liberdade de mercado, exercer suas identidades privadas, etc. Mesmo assim coletivamente, qualquer um@ pode pensar que essa história beneficia a tod@s. Afinal o trabalhador não é coagido por algumas pressões institucionais e discursivas, a pensar que é explorado pelo patrão porque escolheu e que essa relação é igual, e que as classes sociais existem porque algumas pessoas simplesmente possuem mais dinheiro que você e isso é aceitável?
O problema é que, esse poder de definição da realidade descansa num privilégio de classe... quem define a realidade feminista de agora assim são feministas brancas e de classe média. Quem não tem privilégio de classe e cor não se privilegia tanto dessa história de agência. Privilegia quem está inserido neste capitalismo contemporâneo "democrático", e que pode consumir sua liberdade de mercado, exercer suas identidades privadas, etc. Mesmo assim coletivamente, qualquer um@ pode pensar que essa história beneficia a tod@s. Afinal o trabalhador não é coagido por algumas pressões institucionais e discursivas, a pensar que é explorado pelo patrão porque escolheu e que essa relação é igual, e que as classes sociais existem porque algumas pessoas simplesmente possuem mais dinheiro que você e isso é aceitável?
Cafetões posando como "Ativistas pelo Trabalho Sexual" e Conflitos de Interesse
"Pessoas bem intencionadas pensam que maior parte das uniões e organizações de"trabalhadoras sexuais ativistas" fala por todas mulheres na prostituição. Elas estão enganadas. Um número chocante dessas organizações de "trabalhadoras sexuais" foram começadas por mulheres e homens que eram proxenetas admitidos e cafetonas, ou foram convencidos ao proxenetismo, condesceder-se ou conspiração para promover prostituição. Essas pessoas chamam a elas mesmas "trabalhadoras sexuais" mas é uma falcatrua. É um gigantesco conflito de interesses. Essas organizações e suas 'parceiras" e afiliadas não podem ser permitidas falarem pelas mulheres na prostituição para coletar fundos para seu bem. Qualquer O.N.G, universidade, colégio de organização não lucrativa que engaja essas organizações de afiliados cafetões ou suas parcerias é envenenada por associação. Essas organizações se beneficiam dos predadores que enlucram da exploração sexual; elas não ajudam mulheres na prostituição."
para ler todo o post, clique aqui.
para ler todo o post, clique aqui.
um pouco sobre lesbianismo político e não somente sexual
Lesbianismo é... acima de tudo a prática de solidariedade fundamental entre mulheres. Toda nossa vida emocional é investida nas mulheres, para mulheres, com mulheres; nós não damos qualquer benefício para o opressor... Todas mulheres devem se tornar lésbicas, isso é, ganhar solidariedade, resistir, e não colaborar. Enquanto o lesbianismo for considerado um tipo diferente de sexualidade, enquanto "desejo" for pensado como vindo de um impulso desconhecido, a idéia de lesbianismo como escolha política será visto como inaceitável (Monique, 1980)
retirado de "The Social Construction of Lesbianism", Celia Kitzinger. 1987.
retirado de "The Social Construction of Lesbianism", Celia Kitzinger. 1987.
domingo, 10 de junho de 2012
Por que me nomeio lésbica por Cheryl Clarke
"Eu me nomeio 'lésbica' porque essa cultura oprime, silencia e destrói as lésbicas, mesmo as lésbicas que não chamam a elas mesmas como 'lésbicas'. Eu nomeio a mim mesma 'lésbica' porque eu quero ser visível para outras lésbicas negras. Eu nomeio a mim mesma 'lésbica' porque eu não quero subscrever-me à heterosexualidade predatória/ institucionalizada. Eu me nomeio lésbica porque eu quero estar com mulheres (e elas todas não têm que chamarem-se a si mesmas 'lésbicas'). Eu me nomeio 'lésbica' porque é parte da minha visão. Eu nomeio a mim mesma lésbica porque ser mulher-identificada foi o que veio me mantendo sã. Eu chamo a mim mesma 'Negra', também, porque Negra é a minha perspectiva, minha Estética, minhas políticas, minha visão, minha sanidade" -
- Cheryl Clarke, em "Novas Notas em Lesbianismo".
- Cheryl Clarke, em "Novas Notas em Lesbianismo".
Comecei hoje este blog porque andava povoando lugares errados do meu pensamento e críticas ao mundo, em coisas como as políticas feministas recentes, privilégios de classe, raça e sexo, movimentos sociais, etc.
Acho que o ato de escrever é perigoso, mas é necessário também.
Aqui você vai encontrar talvez algumas traduções e algumas coisas escritas jogadas, nada mais que isso. Algumas coisas poderão gerar incômodo, mas como muita gente veio dizer que coisas que digo as ajudam, prefiro beneficiar estas.
Não espere algo muito estético aqui... são mais rascunhos. E tentativa de recuperar uma sujeita de escrita política, opinativa, que foi meia reprimida esses tempos.
Para as garotas que necessitam sentirem-se menos sós... para quem gosta de ousadia e radar crítico rebelde... e vai saber acolher as palavras aqui... disfrutem.
Acho que o ato de escrever é perigoso, mas é necessário também.
Aqui você vai encontrar talvez algumas traduções e algumas coisas escritas jogadas, nada mais que isso. Algumas coisas poderão gerar incômodo, mas como muita gente veio dizer que coisas que digo as ajudam, prefiro beneficiar estas.
Não espere algo muito estético aqui... são mais rascunhos. E tentativa de recuperar uma sujeita de escrita política, opinativa, que foi meia reprimida esses tempos.
Para as garotas que necessitam sentirem-se menos sós... para quem gosta de ousadia e radar crítico rebelde... e vai saber acolher as palavras aqui... disfrutem.
Assinar:
Postagens (Atom)