sexta-feira, 27 de julho de 2012

manufaturando o consenso

‎"Eu nunca tocaria uma pessoa sem seu consentimento, então onde o consentimento não estivesse imediatamnete presente, eu o manufaturaria o melhor que pudesse."

-  Manufaturar o Consenso, pode ser estupro? , texto de um cara, sobre como condutas de flerte se tornam agressões sexuais.


interessante pra quem tá acolhendo o lance de consentimento agora. recomendaria que fosse lido por lésbicas também.


condenamos o estupro e a agressão sexual como problemas longínquos, até acostumadas pelas torrentes de uptades em facebook contra a cultura de estupro, e as mídias como estereotipam estupradores e estupro. e não pensamos nunca como essas coisas podem estar tão próximas a nós.


nas relações íntimas podem haver muitas condutas de coerção para se ter o que se necessita, pode haver abuso passivo, pressão, drama, chantagem, no marco mesmo da feminilidade clássica. as feministas falam em leis ou em criar novos códigos penais (que é uma merda, não passam dum braço do estado, e claro, é algo que vem da agenda das feministas brancas), as feministas anarchas e independentes falam em fazer escracho, em alguns lados o escracho também tá colonizado pelo heroismo justiceiro machista, serve como descarga até pra um povo fora da experiência, mas trabalho profundo e contínuo parece que não acontece. muitas vezes o agressor continua por aí sem mudar merda alguma, e a sobrevivente vai ter que lidar com o que passou de qualquer jeito, e não significa que esteja protegida. Debate coletivo e apropriação comunitária das experiências de justiça e criação de justiça, não se vê. Criar ferramentas a partir das experiências, tampouco.


Primeiro, trabalho de prevenção não ocorre. Vamos seguir pensando as agressões como algo que não pode acontecer com nós - seja de qual lado possamos estar. Não vamos pensar as raízes das condutas e como as reproduzimos ou criamos ambientes que as facilitem.


Obviamente a cultura constrói as condições para os abusos sexuais, e a socialização da Masculinidade quase a torna compulsória - pornografia, amigos, e a necessidade de provar que é homem.

Não acho que todo abuso sexual é um acidente, como parece pintar o processo de responsabilização, tampouco. Acho que muitas vezes vem de uma postura de privilégio masculino e Poder que recusam-se os homens a repensá-la ou abdicá-la. Violência e femicídio também são estruturais.

As oficinas de consenso me parecem um instrumento interessante para educar sobre abusos e podermos orientar um@s aos Outr@s, é aquela coisa 'a sociedade ensina como evitar estupro, não ensina como não estuprar'. Eu também cresci tendo que ouvir meus pais dizendo que tinha que me cuidar, acho que foi aí que virei 'feminazi'...

O abuso sexual não é apenas aquela imagem dos filmes, a coerção explícita. Esta sim existe, mas existem talvez as mais perigosas, as silenciosas, as bondosas. Ainda a confiança é o espaço onde ocorrem os abusos.
Andamos conseguindo aceitar, ver e lidar com os "nãos"? Orientamos e criamos ambientes onde haja consciência de que as interações devem ser consensuais de maneira completa?

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